terça-feira, fevereiro 28, 2006

Crash (Da série Descolar Cinema)


Ontem fui ver Crash. Fiquei com vontade desde que ele postou esse comentário.
E o filme é tudo isso mesmo.
É muito. É nu e cru. É choque cultural.
É o encontro com a pergunta terrível: o que afinal de contas fazemos de nossas vidas?
É o vislumbre da precariedade da existência, na sua contingência e na sua absurdidade.
Elenco maravilhoso. Mas Don Cheadle... A atuação dele é emudecedora.
É um filme que devolve a bola pra gente...
Mais tarde, em casa, estava lendo um artigo do Luiz Moreira, que, dentre outras coisas fantásticas, dizia o seguinte: "No fundo, os conflitos recentes, como o do Iraque, são bem mais do que uma intervenção regional cuja finalidade seja afirmar a supremacia militar e econômica no Oriente Médio. Pretende-se estabelecer uma superioridade civilizatória planetária."
Tá até agora dando eco.

2 Comentários:

Blogger Leonor disse...

Também já vi e gostei muito. Esse é um dos filmes que nos deixa a pensar mesmo depois de termos abandonado a sala. Bjs

1/3/06 08:32  
Blogger Gláucia disse...

Estou torcendo por ele, por enquanto. Vi Munique e Capote. Mas gostei muitíssimo mais de Crash.

3/3/06 02:04  

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segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Para Lô (Da série Parabéns a Você 25/02)

Para Lô,
companheira de bLOg e de pilates,
peripécias, saúde e alegrias,
presentes teus mistérios de peixes,
sempre surpresa, discreta folia.

2 Comentários:

Blogger Lo disse...

E não é que eu consegui pôr um link lá? Não exatamente no lugar ideal, mas que cumpre bem o propósito. Tu vê do que presentes queridos são capazes! Obrigada pelas flores. bj

28/2/06 07:40  
Blogger Gláucia disse...

Tu mereces.
Bjs.

28/2/06 16:50  

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domingo, fevereiro 26, 2006

E assim passou a semana...(Da série Tributo a Caio)


Esse é o outro lado da flor, postada na segunda-feira, quando foi aberta a Semana Caio F.
Como dá pra notar, parte dela acabou sendo cortada, em função do tamanho do scanner.
Mesmo assim, espero que transmita uma noção da beleza do trabalho. Cada pétala contém uma citação.
***********************
Também não pode passar em branco o fato de que todas as pessoas envolvidas na criação artística do espetáculo "Morangos Mofados", dirigido pelo Luciano Alabarse, trabalharam sem receber qualquer cachê, para que a peça pudesse chegar gratuitamente ao público. Foram eles: Rodrigo Lopes (assistente de direção, cenografia e figurinos, gravação da trilha sonora, operação de som), Breno Ketzer (Iluminação e operação de luz), Flávio Wild (design gráfico), Luciano Alabarse (direção, trilha sonora e coordenação de produção), Miguel Arcanjo (contra-regragem, helps de produção), Airton Tomazoni (helps coreográficos), Simone Butteli (helps produção). E o elenco: Alexandre Silva, Aline Grisa, Cassiano Ranzolin, Elisa Lucas, Evandro Soldatelli, Juliano Barros, Marcelo Adams, Mônica Mendes e Rafael Menges.
*************************
O curta "O Dia em que Júpiter encontrou Saturno" estava em estado lamentável. Praticamente inaudível.
*************************
A palestra da Amanda Costa sobre a presença da astrologia na obra do Caio estava tão interessante que poderia se repetir, com mais tempo. Ela acabou ficando espremida entre os espetáculos Caio F. e Morangos Mofados.
*************************
O monólogo Caio F., foi dirigido e atuado por Sílvia Ramos. A montagem foi a partir de cartas do Caio ao amigo Luciano. Embora prejudicado pelo calor que fazia na sala, foi comovente.

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Amigo (Da série Sagrados e Consagrados)



Amigo

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,

Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O’Neill, in No Reino da Dinamarca

Imagem: Edgar


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sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Tocando em Frente (Da Série Canções do Exílio)



Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso, porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe

Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei,
Eu nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,

É preciso o amor pra poder pulsar,

É preciso paz pra poder sorrir,

É preciso a chuva para florir.

Penso que cumprir a vida seja simplesmente

Compreender a marcha, e ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro levando a boiada,

Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou,

De estrada eu sou

Todo mundo ama um dia todo mundo chora,

Um dia a gente chega, no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história,

E cada ser em si, carrega o dom de ser capaz,

E ser feliz

Ando devagar porque já tive pressa

E levo esse sorriso porque já chorei demais

Cada um de nós compõe a sua história,

E cada ser em si, carrega o dom de ser capaz,
E ser feliz.

(Almir Sater)
Imagem: Rui Matos

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Que coisa linda! :o) Fez-me olhar a vida de novo, a sorrir!

27/2/06 19:53  
Blogger Gláucia disse...

Elis, que saudades.
Vou lá te ver.
Bjs

28/2/06 01:04  

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quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Ovelhas Negras - fragmentos (Da série Tributo a Caio)


Lixo e Purpurina
(...)
8 de fevereiro
Chorei três horas, depois dormi dois dias.
Parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada. Olhar, quando já não se acredita no que se vê. E não sentir dor nem medo porque atingiram seu limite. E não ter nada além deste amplo vazio que poderei preencher como quiser ou deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total. Até a próxima morte, que qualquer nascimento pressagia.
(...)
25 de fevereiro
Essa morte constante das coisas é o que mais me dói.
(...)
Depois de todas as tempestades e naufrágios, o que fica de mim em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro.
(...)
2 de março
Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas as tentativas de aproximação. Tenho vontade de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
(...)
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
11 de março
(...)
Sinto ódio, não exatamente de quem ou de quê. O estômago vazio há mais de trinta horas, os cigarros filados aqui e ali, o dente quebrado em plena bad trip. Quero outra vez um quarto todo branco e um par de asas. Mesmo de papelão.
(...)
Meu Deus, não sou muito forte, não muito além de uma certa fé - não sei se em mim, se numa coisa que chamaria de justiça-cósmica ou a-coerência-final-de-todas-as-coisas. Preciso agora da tua mão sobre a minha cabeça. Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso do vôo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira, que me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos becos de mim, Senhor. Que meus olhos saibam continuar se alargando sempre. Sinto uma dor enorme de não ser dois e não poder assim um ter partido, outro ter ficado com todas aquelas pessoas.
Volta a pergunta maldita: terei realmente escolhido certo? E o que é o "certo"? (...)

Mas apenas e antigamente guirlandas sobre o poço
(...) Ele me olhava triste. Eu não suportava seu olhar triste a lembrar-me das vezes todas que o tinha procurado inutilmente pelas ruas sem encontrá-lo. Agora que o encontrava já não o procurava. E um encontro sem procura era tão inútil quanto uma procura sem encontro. (...)

Anotações sobre um amor urbano
(...)
Pelas escadarias da avenida deserta, lata de coca-cola largada na porta da igreja, aqui parece que o tempo não passou, quero te mostrar um vitral, esta sacada, aquele balcão como os de Lorca, entremeado de rosas, quero dividir meu olhar, desaprendi de ver sozinho e agora que tudo perdeu a magia, se magia houve, e havia, e não consigo mais ver nenhum anjo em você, pastor, mago, cigano, herói intergaláctico, argonauta, replicante, e agora que vejo apenas um rapaz dentro do qual a morte caminha inexorável, só não sabemos quando o golpe final, mas virá, cabelos tão negros, rosto quase quadrado, quase largo, quase pálido, onde já começou a devastação, olhos perdidos, boca de naufrágio vermelho pesado sobre o escuro da barba malfeita, olho tudo isso que vejo e não tem outra magia além dessa, a de ser real, e vou dizendo lento, como quem tem medo de quebrar a rija perfeição das coisas, e vou dizendo leve, então, no teu ouvido duro, na tua alma fria, e vou dizendo louco, e vou dizendo longo sem pausa - gosto muito de você gosto muito de você gosto muito de você.
(...)
(caio fernando abreu, Ovelhas Negras, L&PM)
imagem: Luís Manjerico

1 Comentários:

Blogger Gláucia disse...

O Virtua estava fora do ar. Pode?
Te ligo amanhã pra gente falar sobre igualdade. Quem sabe um cineminha na tarde? Consulta as bases, aí. Bjs.

25/2/06 01:02  

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Corra, gláucia, corra (Da série Molly Bloom)


então cheguei lá pra correr e estava calma, pelo menos achava que estava. quando identifiquei as camisetas da minha turma meu coração deu uma aceleradinha. nada demais. começamos a nos achar por equipes nas listagens (eram quatro equipes de quatro). aí aos poucos foi caindo a ficha de que eu era a única mulher na minha. o resto do povo: hômi-bala, tão me acompanhando? do tipo que faz o serviço todo na marca dos 20'. aí começou a me dar um nervoso e uma vontade danada de fazer xixi. o jeito era ir até a Usina do Gazômetro, ainda dava tempo. fui devagar, tentando não pensar muito no quanto a virose atrapalharia meu rendimento. ouvindo "Los Hermanos" fui invadida por tantas lembranças sobrepostas daquele caminho, daquele lugar que essa semana é do caio, que é nosso, do caio que é nosso lugar, do café que foi nosso. do sol entre a folhagem, do pôr-do-sol balouçante, dos barcos. do nosso que será pra sempre. da angústia que dói no peito. mas corredores são seres alegres e contagiantes. eu seria a terceira a sair. estava cercada de risadas, barulheira, burburinho. a largada. os primeiros a chegar. comecei a tentar me concentrar. chegada do Cris, primeiro da minha equipe. transfigurado em suor em auto-superação. saída do Dudu, o próprio hômi-bala. começavam meus mais ou menos dezoito minutos pra algongar, aquecer e ficar pronta. lá no fundo eu pensava aiaiaiaiai meu jesuscristinho, ondé que eu fui me meter? e veio a hora. coração disparado. o Cris e a Dani me esperavam logo após a largada e correram um trecho inicial comigo, pra dar ritmo à sagitariana desorientada que iniciou muito rápido e puxando demais. tentei diminuir um pouco. mas ainda consegui virar por volta dos 13' e fui lembranças que invoquei e quis beleza. as pernas começaram a se mover sozinhas, batimentos se aproximando dos 190. mas era logo ali. garganta começando a arder, alarme, início de enjôo, mas era logo ali. e eles esperavam depois da curva, pro tiro final - o Cris e a Dani - parceria que virou amizade que virou carinho que de tanto perdeu o nome. hoje é nós. e o Cris gritava que Dona Mitiko ia se orgulhar de mim. mas eu já não ouvia, não conseguia falar ou rir. e enxerguei o Henrique, o quarto, pra quem eu deveria passar a pulseirinha, muito mais do que isso, o meu treinador, o meu amigo querido, a pessoa que me apoiou tanto em momentos hard. e foi muito mais fácil abrir a passada, esquecer o corpo, jogar o peito pra frente, chegar. foi o meu melhor tempo. com virose e tudo. e depois da chegada as pernas bambearam um pouquinho. o moço da equipe vizinha que me namora desd'a corrida passada ficou cuidando de perto, cara preocupada. não disse palavra, mas não parou de olhar até que depois de uma caminhadinha recuperei, me juntei à turma e o perdi de vista. então desabou um temporal. rápido, mas forte, pra comemorar. eu nunca antes tinha forçado tanto. por medo. mas graças a Dani, ao Cris, ao clima, à turma, ele largou do meu pé pela primeira vez. a-d-o-r-o primeira vez. agora só quero correr em equipe. eu só quero revezamento. vão inventar mais revezamento porque eu preciso muito. P-r-e-c-i-s-o. Valeu, povo.
(Imagem: Karl F.)

5 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

E isto aí Gláucia!!! Senti firmeza!!! Estava muito legal mesmo. Parabéns por mais esta conquista!!! Adorei o texto, muito legal. Espero que nós possamos correr juntos muito mais vezes. Forte abraço do amigo Dudu

23/2/06 13:39  
Anonymous Anônimo disse...

Esotu muito contente por ti. Lendo teu post me deu uma saudade de Porto Alegre, do Guaíba, do sol. Queria muito ter estado lá contigo.

Beijo,
Niña

23/2/06 16:24  
Blogger Gláucia disse...

Dudis,
Parabéns pra nós, né, que vale mil vezes mais chegar junto do que chegar antes, sozinho. Esse gosto vocês me ensinaram. Eu também quero poder correr contigo muitas vezes. E assim será.

Niña,
Tô louca de saudades. Quem sabe se eu conseguir instalar o MSN não nos falamos amanhã? (Tive uns problemas técnicos, mas já está tudo encaminhado.)
Tenho certeza que ainda vamos caminhar muitas vezes na beira do Guaíba.
bjs

24/2/06 01:31  
Anonymous Anônimo disse...

Eai Glaucia!!! Valeu mesmo, tava muito legal todo o clima de equipe que nos cercava. É muito bom saber que a energia que existe no Clube de Crrida contagia e da mais força nos nosso desafios. Valeu pelo carinho .. ah, e que possamos correr juntos novamente né. Bah, faz tempo. Parabéns pela corrida e polo blog. Abração
Henrique

24/2/06 09:51  
Blogger Gláucia disse...

Henrique,
Tu mereces todo o carinho do mundo, pq isso é nada menos do q tive de ti qdo mais precisei.
Assim que essa dissertação se cumprir, voltaremos aos treinos normais.
Mas eu quero revezamento, quero revezamento, quero revezamento!
Beijos,

25/2/06 01:00  

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quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Harriett (Da série Tributo a Caio)



HARRIETT


Para Luzia Peltier, que soube dela.

"No fundo do peito esse fruto
apodrecendo a cada dentada"
Macalé & Duda, Hotel das Estrelas

Chamava-se Harriett mas não era loura. As pessoas sempre esperavam dela coisas como longas tranças, olhos azuis e voz mansa. Espantavam-se com os ombros largos, a cabeleira meio áspera, o rosto marcado e duro, os olhos escurecidos. Harriett não brincava com os outros quando a gente era criança. Harriett ficava sozinha o tempo todo. Mesmo assim as pessoas gostavam dela. Quase todo mundo foi na estação quando eles foram embora para a capital. Ela estava debruçada na janela com os cabelos ásperos em torno das maçãs salientes. Eu fiquei olhando para Harriett sem conseguir imaginá-la no meio de edifícios e automóveis. Acho que senti pena - e acho que ela sentiu que eu sentia pena dela porque de repente fez uma coisa completamente inesperada. Harriett desceu do trem e me deu um beijo no rosto. Um beijo duro e seco. Qualquer coisa como uma vergonha de gostar. Essa foi a primeira vez que eu vi os pés dela. Estavam descalços e um pouco sujos. Os pés dela eram os pés que a gente esperava de uma Harriett. Pequenos e brancos, de unhas azuladas como de criança. Eu queria muito ficar olhando para seus pés porque ahcei que só tinha descoberto Harriett na hora dela ir embora. Mas o trem se foi e ela não olhou pela janela. Um tempo depois a gente viu a fotografia dela numa revista, com um vestido de baile. Harriet era manequim na capital. Todo mundo falou e comprou a revista. Quase todos os dias a gente via suas fotos em jornais. Harriett era famosa. A cidade adorava ela mas ela nunca escreveu uma carta pra ninguém. Muito tempo depois eu a vi outra vez. Eu estava trabalhando num jornal e tinha que fazer uma entrevista com ela. Harriet estava sozinha e não ficou feliz em me ver. Continuava grande e consumida e tinha nos olhos uma coisa cheia de dor. Fumava. Falei da cidade, das pessoas, das ruas, mas ela pareceu não lembrar. Contou-me de seus filmes, seus desfiles, suas viagens - contou tudo com uma voz lenta e rouca. Depois sem que eu soubesse por que, mostrou-me uma coisa que ela tinha escrito. Uma coisa triste parecida com uma carta. Tinha um pedaço que nunca mais consegui esquecer e que falava assim:
sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo meu deus como você me doía de vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio de uma praça então os meus braços não vão ser suficientes pra abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada só olhando e pensando meu deus mas como você me dói de vez em quando.
Quando eu terminei de ler eu tinha vontade de chorar e fiquei uma porção de tempo olhando para os pés dela. E pensei que ela parecia ter escrito aquilo com seus pés de criança e não com as mãos ossudas. Eu disse para Harriett que era lindo mas ela me olhou com aquela cara dura que a gente esperava de uma Harriett e disse que não adiantava nada ser lindo. Tive vontade de fazer alguma coisa por ela. Mas eu só tinha uma vaga numa pensão ordinária e um número de telefone sempre estragado. Eu não podia fazer nada. E se pudesse ela também não deixaria. Fui embora com a impressão que ela queria dizer alguma coisa. Três dias depois a gente soube que ela tinha tomado um monte de comprimidos para dormir, cortou os pulsos e enfiou a cabeça no forno do fogão a gás. Foi muita gente no enterro e ficaram inventando estórias sujas e tristes. Mas ninguém soube. Ninguém soube nunca dos pés de Harriet. Só eu. Um desses invernos eu vou encontrar com ela no meio duma praça cinzenta e vou ficar uma porção de tempo sem dizer nada só olhando e pensando: que pena - que pena, Harriett, você não ter sido loura. De vez em quando, pelo menos.

(caio fernando abreu, in O Ovo Apunhalado, Porto Alegre: Ed. Globo, 1975, p. 110)
imagem: joana reis

2 Comentários:

Blogger Gláucia disse...

Eu sempre choro. Mesmo que eu já tenha lido as mil vezes que li. Mesmo que alguns trechos decorados. Mesmo que, sempre, ainda.

23/2/06 02:25  
Blogger Tuca disse...

Que lindo, que lindo, que lindo......

25/2/06 18:26  

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Ipanema FM (Da série Tributo a Caio)



A Ipanema,
(rádio local), aderiu à semana de Tributo ao Caio promovida pelo Luciano Alabarse, pelo Porto Alegre em Cena e pelo Margarida Inventada: Alguém recita um poema do Caio, e depois fecha com o bordão 'Ipanema - 10 anos sem Caio Fernando Abreu - FM.'

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

eu tenho que urgente corrigir esta falha e ler algo dele

24/2/06 20:28  
Blogger Gláucia disse...

Delaidinha,
tu não tens idéia do que estás perdendo. É tudo de bom do melhor que já li. Gruda na pele, passa a fazer parte...

25/2/06 00:54  
Anonymous Anônimo disse...

nossa, sabes que eu vi este cartaz afixado num sebo e fiquei com A VONTADE de afaná-lo pra mim? rs...
puxa, vou procurar no site da ipanema pra ver se eles gravaram, não ouvi qdo rolou.
até mais! =D

5/3/06 18:41  

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terça-feira, fevereiro 21, 2006

Onírico - fragmentos (Da série Tributo a Caio)


Veio num sonho, certa noite. Ela o amava. Ele a amava também. E ainda que essa coisa, o amor, fosse complicada demais para compreender e detalhar nas maneiras tortuosas como acontece, naquele momento em que acontecia dentro do sonho, era simples. Boa, fácil, assim era. Ela gostava de estar com ele, ele gostava de estar com ela. Isso era tudo. (...)
Não se matou. Não seria capaz, resistia sempre à ilusão de encotrá-lo um dia.
Por isso mesmo houve outros, claro. Algumas iluminações, encontros quase agradáveis até. O engenheiro divorciado, o professor de olhos verdes. Mas aprendeu a ir dormir sempre o mais cedo que pode, pois é nessa faixa que ele habita, ela sabe, a contemplá-la, mesmo de olhos fechados. E de tudo que foi restando nesses anos todos, continua sabendo que sabe que fica lá o lugar onde poderia encontrá-lo outra vez. Do outro lado, onde com os olhos abertos ela vê com os olhos fechados e inteiramente nua, encostada ao ombro dele, que dorme inteiramente nu, também, mas a vê-la dentro do sono.
Arfam levemente os dois. Ela dorme segura protegida no ombro dele que a protege segura. Mesmo dormindo, mesmo do lado de cá. E isso é para sempre, por mais que o tempo passe e a afaste cada vez mais dele, que continua eterno naquele segundo em que o viu. E isso ninguém roubará, repete-se, mesmo levando em conta todos aqueles meses de enganos vis que continuam e continuarão a vir depois daquele sonho.
Eu te amo, repete sozinha para o escuro toda noite, pouco antes de seu corpo dissolver-se na espuma do sono, eu te amo. E se pudessem saber, os outros, todos saberiam que isso não deixa de ser uma vitória. Certa espécie de vitória. Mas tão dúbia que parece também uma completa derrota.

(caio fernando abreu, 1991. Está no 'Ovelhas Negras', Porto Alegre: L&PM POCKET)
Imagem: Victor Melo

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Depois de dias de ausência venho aqui e tu me fazes chorar. O texto é delicado e mais do que nunca pertinente.

Saudades imensas,
Niña

22/2/06 13:54  
Anonymous Anônimo disse...

Tô AMANDO esse tributo. Porque, tu sabe, amo tanto essa pessoa. Para relembrá-lo nessa data estou lendo o Estranhos Estrangeiros, que ainda não conhecia. beijo querida

22/2/06 17:04  
Blogger Gláucia disse...

Niña,
A magia do caio é essa. de algum modo, ele é sempre pertinente. ele une. ele espelha, ele traduz. ele nosso anjo talvez seja, disse Mr. Cafeína Yoda.

Jô, querideza caiana, que bom que estás gostando.
Vou tentar acompanhar o que der na movimentação da semana, mas a vida tá corrida. Pena ser só essa...

Bjs pras duas.

23/2/06 02:22  

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segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Aquário (da série Hai-Kais Astro-Lógicos)


Sim, o último dia de aquário foi dia 19/02. Atrapalhação sagitariana.
Sorry.
Seguem aí os hai-kais dedicados aos aquarianos.


Céu azul de aquário

gaivotas cruzam o rio
ao sul: relicário
(gláucia)


Águas retidas
escorrem-te em cantos
nadas nos tantos
(nar scissors)
Imagem: Maria Avelino

5 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Arrasou.

Vai la no Gorduchas ver o post que eu fiz pra tua filha...

21/2/06 10:46  
Blogger Gláucia disse...

Soli,
Quem arrasou foste tu.
Ela amou.
E eu tô aqui, fazendo ranho que é uma beleza.

21/2/06 13:04  
Anonymous Anônimo disse...

Até que enfim alguém lembrou de mim...

Ai...ai...lindo.

Beijos!

22/2/06 13:57  
Blogger Gláucia disse...

Qual o teu dia Niña?

23/2/06 02:16  
Anonymous Anônimo disse...

Dia 6.

24/2/06 17:04  

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Poema Inédito do Caio (Da série Tributo a Caio)

Está tudo planejado:
se amanhã o dia for cinzento,
se houver chuva
ou se houver vento,
se eu estiver cansado
dessa antiga melancolia
cinza fria
sobre as coisas
conhecidas pela casa
a mesa posta e gasta
está tudo planejado
apago as luzes, no escuro
e abro o gás
de-fi-ni-ti-va-men-te
ou então
visto minhas calças vermelhas
e procuro uma festa
onde possa dançar rock
até cair
(caio fernando abreu)

(Esse poema inédito é de 1982. O manuscrito faz parte do acervo do Instituto de Letras da UFRGS, organizado pela Professora Márcia Ivana de Lima e Silva. Foi publicado em matéia da Bravo deste mês)

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Tributo a Caio Fernando Abreu (Da série Bilhetes e Lembretes)

RETIFICAÇÃO
Caio F. - E assim se passaram dez anos.
Clicando aí em cima, a programação completa da Semana Caio.
A peça Morangos Mofados, com direção de Luciano Alabarse,
fica no Renascença apenas quinta, sexta e sábado (23, 24 e 25 de fevereiro),
e não como havia constado.

Essa flor gráfica aí em cima foi criada pelo Flávio Wild pra homenagear o escritor.
É um girassol.
Suas pétalas desabrocham até o surgimento do nome e do rosto de Caio.
Na Usina do Gasômetro, de 21 a 24/2, três curtas e um longa:
Sargento Garcia, Dama da Noite,
Pela Passagem de uma Grande Dor e
Aqueles Dois.

AQUI NO MI, durante toda semana,

textos dele.

Na programação da Semana, hoje:
20h - Saguão Centro Municipal de Cultura - Palestra Caio Fernando Abreu: identidade e ruptura na literatura gaúcha, com Tânia Carvalhal, Luis Augusto Fischer e Juarez Fonseca.

21h - Teatro Renascença - Leitura Dramática O Homem e a Mancha, com direção de Luciano Alabarse e interpretação de Marcelo Adams.

2 Comentários:

Blogger Alex disse...

Oh, Glau! O Caio é nosso anjo.

Queria tanto ver...

Me conta tudo, viu?

Beijão de papelão.

20/2/06 11:23  
Blogger Gláucia disse...

Pode deixar que eu vou contar tudinho que eu conseguir assistir aqui. As vezes também acho que o Caio é o nosso anjo. Beijos com asas, querido.

20/2/06 17:30  

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domingo, fevereiro 19, 2006

Ternura (Da Série Sagrados e Consagrados)


Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos.
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo.
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas, nem a fascinação das promessas.
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um trasbordamento de carícias.
E só te pede que repouses quieta, muito quieta.
E deixe que as mãos cálidas da noite
Encontre sem fatalidade o olhar extático da aurora.


(Vinícius de Moraes)
Imagem: Ivone Peoples

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Laura Beck Varela (Da série Parabéns a Você)

Amada Laureta,
Ambas sabemos o quanto fazemos falta uma à outra desde que nos despedimos. Nossa intimidade nunca perdida, nosso amor de sempre, nossos encontros esparramados em letras e gargalhadas... Desde que nos separaram o mar e as circunstâncias, quanto aconteceu nas nossas vidas! Foram casamentos, nascimentos, mortes, distanciamentos. Um pouco leste nos meus olhos tristes e nos meus gestos mais lentos e calculados, quando da tua vinda invernal. Outro tanto sabes porque lês minh'alma, não importa a que distância estejamos. Feitas dessa matéria quente que nos prende às palavras e à beleza de forma inarredável, sofremos os revezes da separação sem maiores queixas. Mas nessa circunstância de tentar terminar a dissertação, te revejo todos os dias, te ouço, nos lembro; e sinto uma saudade tão grande, Laureta! Sinto uma saudade tão grande do que fomos juntas, do que me ajudaste a ser, do teu olhar admirado diante das nossas descobertas (C-L-A-A-R-O), das nossas jantas de segunda-feira, da AJA, do HSP, das nossas crenças e esperanças partilhadas. Enfim, sinto saudades de tudo, do meu pai que para sempre, da minha irmã que distante, do André que não em mim, do Alexandre a me olhar. E sinto saudades de ti. Imensas.
Dia desses o Rogério estava dizendo que se estivesses aqui tudo seria muito diferente. Que ele nunca esquece de uma volta de Buenos Aires: estávamos as duas sentadas no tapete da sala, com livros e anotações espalhados por todo chão (não havia espaço para andar), com os olhos esbugalhados de loucas falando sem parar sobre o seminário que havíamos preparado. A mãe dele apavorada com a velocidade de palavras por minuto. Juntas éramos insuportavelmente entusiamadas. Sem ti, me falta esse entusiamo! Acho que ele tem razão: se estivesses aqui tudo seria muito diferente!
Conheci dias atrás (meses, na verdade) mais uma pessoa que cruzou nossos caminhos em tempos distintos, mas de quem sei que guardas as melhores lembranças e por quem tens grande carinho. Só não o cito aqui nominalmente por se tratar de criatura discretíssima, pouco dada a aparições públicas. Mas fiquei a pensar mais uma vez nesses tantos caminhos cruzados e teias de amor em que nossas vidas se transformaram (Marcant, Alexandre, André, Rogério, Henrique, Cláudio, Jorginho, Katarina e Marco, Daniela, Paula, Judith, apenas pra falar de alguns). E nas distâncias que se impuseram. E nas que jamais conseguiram se impor, nem por mar, nem por terra, nem por ar. Como essa, que hoje me faz chorar de saudade. E essa que não há, que me faz saber o que será nosso próximo encontro mais uma vez: o abraço apertado de corpo inteiro, de alma leve, das irmãs que o mundo separa, mas o amor teima sempre em unir.
Perdôa o tom melancólico do que deveria ser um entusiamado feliz cumpleaños. Era pra ser. E é, porque saberás ler o amor que permeia as entrelinhas. Vão aqui também beijos e cumprimentos do Rogério e da Clara.

6 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Que bonito, Glau, texto, emoção, e, sobretudo, a tua Amizade. Uma carta de amiga para amiga, que é também uma carta de amor tão linda. Que sorte tem quem tem a sorte de ser teu amigo. Ao lê-la, senti-me algo intrusa, mas fui incapaz de parar e fui até ao fim. Aí, imaginei como se sentiria/sentirá a tua amiga Laureta; imaginei um casulo, envolvente como um abraço, cheio de calor... calor-amor, calor-carinho, calor-humano, calor!
Mas que digo eu? Que sei eu? Acabei de acordar, num domingo, ainda por cima, quase de madrugada ainda... direi tontices só... :o) Muitos beijos, só!!! E, para ti, Laureta, sinceros parabéns, muita felicidade em muitos dias felizes.
E.

19/2/06 04:42  
Blogger Gláucia disse...

Elis,
Uma das coisas mais legais que tenho aprendido com os blogs é que toda beleza que pode ser repartida deve ser repartida. Não és intrusa. És convidada. Na amizade, como diz outra amiga, a gente só multiplica.

19/2/06 14:18  
Anonymous Anônimo disse...

Lindo Glau!
Feliz cumpleaños para Frau Lauretta! Ich wunsche Dir alles gute zum Geburtstag!
Tô com saudades....bjs mil, Paula

20/2/06 23:31  
Anonymous Anônimo disse...

Lindo.

22/2/06 14:49  
Blogger Gláucia disse...

Niña,
que saudades que estava dos teus comments. Bjs

23/2/06 02:14  
Anonymous Anônimo disse...

Gládis,
meu comentário anterior terá caído em algum lugar. Descobrirás. Eu não consegui rastreá-lo de volta, por isso escrevo novamente:
descobri o teu blog por casualidade. Por casualidade? "... un encuentro casual era lo menos casual en nuestras vidas, y (...) la gente que se da citas precisas es la misma que necesita papel rayado para escribirse o que aprieta desde abajo eu tubo de dentrifico" (hihihi).
Vejo que essa entrada no blog se refere a fevereiro, de modo que estou um pouco atrasado... se referia ao aniversário da "Laureta"? Ainda dá tempo de mandar um bj de aniversário para ela?

22/10/06 05:31  

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sábado, fevereiro 18, 2006

Lúcia Helena Correa da Silva (Da série Parabéns a Você)















Para minha querida prima e afilhada,
muitos beijos, mimos, carinhos,

da dinda maluca e sempre atordoada.

0 Comentários:

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sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Embora Soneto (Da Série Sagrados e Consagrados)


Vivo meu porém
No encontro do todavia
Sou mas.
Contudo
Encho-me de ainda
Na espera do quando
Desando ou desbundo.
Viver é apesar
Amar é a despeito
Ser é não obstante.
Destarte
Sou outrossim
Ilusão, sem embargo
Malgrado senão.

(Paulo Alberto M. Monteiro de Barros)
Imagem: Luiz Alberto de Almeida Freitas

7 Comentários:

Blogger Gláucia disse...

Que foto, hein? Tu andas numa fase plasticamente impossível. Cosa de louco. Bjs

17/2/06 10:02  
Blogger Gláucia disse...

Do jeito que falei até parece que o poema não é tudo de bom. E é. Maravilhoso. Como tenho portugueses a descobrir nas livrarias por aí. Bjs

17/2/06 10:04  
Blogger Leonor disse...

Se quiser algum livro de cá, me diga, Glau ;-)

17/2/06 10:04  
Blogger Tuca disse...

Ah, Glau... Fico toda boba com teus elogios. A foto é mesmo muito bonita, e o poema, tudo! Beijos.

17/2/06 12:32  
Blogger Gláucia disse...

Papalagui,
Obrigada mesmo. De coração.
Acho que vou estar aí em abril, e podemos combinar de nos conhecer.

17/2/06 20:19  
Blogger Leonor disse...

Claro que sim :)

19/2/06 19:01  
Anonymous Anônimo disse...

porque o titulo "embora soneto"?

16/10/08 13:29  

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O Haiti é aqui (Da série Protestos e Manifestos)

Hoje eu lembrei a razão pela qual, tempos atrás, havia resolvido deixar de ler jornais. Deparei-me com um diário local de ontem, sendo algumas das manchetes: "Haitianos acham urnas no lixo"/"Universidades terão mais tempo para implantar sistemas de cotas"/"Tevê mostra tortura a presos no Iraque"/"Justiça absolve Coronel do massacre de Carandiru".
O Circo de horrorres continua em Abu Ghraib, e os americanos não se preocupam mais em desmentir, justificar ou cousa que o valha: eles manifestam preocupação com o que lhes parece incitamento da violência muçulmana. Ah, tá!
A alteração do projeto de lei que prevê as cotas é outra maravilha: quem sabe conseguem empurrar tanto que não sai. Não seria um sucesso? Depois do fantástico esforço dos nossos antepassados para "branquear o país", na virada do século, com as políticas de imigração, como é que vamos botar uma elite tão clarinha a perder, não é mesmo? Ainda mais aqui, onde há "democracia racial"(maldita expressão cunhada por Gilberto Freyre). Deixa como está pra ter certeza de que fica tudo igual.
O embaixador brasileiro no Haiti confirma que foram encontradas urnas que estavam sob a guarda da ONU com votos não contabilizados nas eleições. Ou seja: fraude. No nariz da ONU, que há vinte meses vem mantendo tropas para estabilizar a situação do país e garantir as eleições, que deveriam ser o caminho da democracia. E cadê os 'observadores internacionais'?
Aliás, por falar em Haiti, "o Haiti é aqui". Caetano Velloso - profeta brasileiro. Cel. Ubiratan Guimarães, sim, aquele mesmo que chefiou a invasão do Carandiru, com saldo de 111 (102?) mortos, saiu absolvido ontem do Tribunal de Justiça de São Paulo. Isso mesmo. Absolvido!!!!!!!!!!!!! Segundo o relator Mohamed Amaro, "o coronel Ubiratan cometeu dolo eventual ao assumir o risco das mortes quando destacou uma tropa de ataque, com submetralhadoras, quando deveria ter utilizado uma tropa de contenção." Até a tribo mais longínqua da Polinésia já sabia disso pelos relatórios das 345 Organizações Internacionais de Direitos Humanos que, na época, investigaram o caso. O revisor do processo votou com o relator. Mas os demais Desembargadores, alguns que sequer tiveram acesso direto aos autos, discordaram. Sim, discordaram, pois o reconhecimento do estrito cumprimento do dever legal, por parte do júri, teria colocado em dúvida a validade da resposta ao quesito seguinte, quando foi reconhecido excesso na atuação do oficial. Hello!!!!!!!!!!! O júri havia ficado 10 (dez) dias discutindo. Mas são leigos (que deve ser sinônimo de idiota em algum dicionário que desconheço), devem ter entendido mal os quesitos. É, devem sim. Eu também devo ter entendido mal. Fiquei chocada: 20X2. O cara foi absolvido por 20X2. Ainda bem que o Ministério Público de São Paulo é atuante. E que existe STJ.
Olha o que já dizia o Caetano, trocentos anos atrás:

" E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina
111 presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui"


Mais sobre o Haiti: Animot - "Veteranos do Haiti (folha)"

Foto: Piparazzi

8 Comentários:

Blogger Cé S. disse...

Ótima margarida cafeinada.

17/2/06 07:08  
Blogger Cé S. disse...

Eu também me enchi dos jornais.

17/2/06 07:10  
Blogger Leonor disse...

Eu nem é tanto os jornais, é mais os serviços noticiosos na tv, especialmente ao fim-de-semana, que é quando vejo mais. É neura pela certa!!!! Também já postei sobre isso lá no blogue.

17/2/06 09:22  
Blogger Gláucia disse...

César e Papa,
Tem horas que não dá pra ser o macaquinho que não ouve e não vê, né? A coisa grita na cara da gente. Eu me senti assim.
E lendo teu blog, César, ultimamente, e tentando escrever a dissertação ao mesmo tempo, tem sido impossível não ficar indignada.

17/2/06 10:00  
Blogger Leonor disse...

Há alturas que não tem mesmo como fugir, e outras que também nem queremos, afinal é o nosso país e o mundo... E o que é isso de "democracia racial?

17/2/06 10:02  
Blogger Tuca disse...

Que tristeza...

17/2/06 12:38  
Anonymous Anônimo disse...

Neste mundo tão louco, tão pouco, tão sem manejo mais, tão sem dó, tão feito animal feito pedra, tão carente de Bem ... Se, de repente, a partir de hoje, só houvesse notícia de nascimentos, de "gente feliz com lágrimas" de alegria, de verde, de campos cobertos de frutos e flores, de águas correndo fortes e límpidas montanhas baixo, de mares de um azul infinito, de "chuva pasmada" pela beleza do próprio mundo, de sol que nos acaricia alma e corpo, de obras grandes e pequenas que fazem dos homens melhores seres, de partilha por Amor ao outro e não por pena e por interesse,...
A partir de amanhã o mundo é outro. Um mundo brilhante de gente que brilha de felicidade, de querer, de crer, de existir e construir.

Sou uma "lírica", uma idealista, uma tonta que se esforça sempre por sonhar... Não tenho emenda mesmo e talvez tenha medo de ter. Terei um dia... e morrerei.

17/2/06 19:21  
Blogger Cé S. disse...

Indignação? Bom.

19/2/06 10:57  

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quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Irresponsabilidade Civil - Ensino à Distância (Da série Imorais e Surreais)


A partir de hoje o MI inicia curso de

Irresponsabilidade Civil
(Ensino à Distância)

É desnecessário fazer inscrição.


Não serão fornecidos certificados.


As dúvidas podem ser tiradas nos comentários.


Objetivo: tornar pessoas excessivamente responsáveis um pouco irresponsáveis. Irresponsáveis o suficiente para deixar de lado, momentaneamente, as obrigações, e passear sem rumo com um 'girassol na lapela', ou tomar sorvete no meio da tarde azul.


Público Alvo: pessoas de quadril endurecido e ombros tensos, que não conseguem ter jogo de cintura e aproveitar a vida com leveza, porque tudo pesa muito. São, em geral, inteligentes, extremamente competentes, mas alguma parte da infância lhes foi roubada. Tornaram-se adultos precocemente.

A primeira tarefa do curso é a atenta leitura do texto que segue. Uma, duas, três vezes. Depois, lembrar quando foi a última vez que.

Por não estarem distraídos


Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e a toque _ a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras _ e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos!

Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que estava ali, no entanto. No entanto, ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome, porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector (Para não esquecer, Rio, Rocco, 1999).

Foto: Antônio Manuel Pinto da Silva

6 Comentários:

Blogger Héctor Ojeda disse...

Obrigado, amiga por tu visita a mi blog, me llegaste al alma con este texto, sobre todo este párrafo que parece fué mi vida hasta hoy:

"Público Alvo: pessoas de quadril endurecido e ombros tensos, que não conseguem ter jogo de cintura e aproveitar a vida com leveza, porque tudo pesa muito. São, em geral, inteligentes, extremamente competentes, mas alguma parte da infância lhes foi roubada. Tornaram-se adultos precocemente".

Que bella eres, un beso y abrazo para você.

16/2/06 18:22  
Blogger Gláucia disse...

Héctor,
Teu blog é cristal e pedra, me compreendes? Já começa a me encantar pelo nome: "Cumbre Alta - Mi Pueblo".
Tem asas, tem estrelas, sem deixar de ter pés no chão árido, olhos na realidade a ser transformada pelas nossas mãos.
Bueno, que a descrição do 'público alvo' tenha te acertado em cheio é fantástico, mais uma das incríveis não-coincidências que nos fizeram coincidir. O texto é da Miranda. Mas "a concepção" do curso é coletiva.
A Clarice Lispector é maravilhosa, não é?

Ah, e fiquei muito vaidosa com o elogio.

Besos de Porto Alegre, Brasil.

16/2/06 21:49  
Blogger Tuca disse...

Surreal Miranda, subscrevo minha inscrição, embora um pouco desconfiada... Trauma! Lembra do "cursinho" que da Glau quando éramos pequenas? Aquele que o prêmio eram papéis de carta... Me deixou sequelas psicológicas irreversíveis.
Saudades. Beijos.

17/2/06 07:57  
Anonymous Anônimo disse...

Notável como tantos se revêem neste teu post. Parece que toda a vida foram assim, chatos e cansados, de tanta mania de assumir responsabilidade, sua e de outros, esquecendo-se de sorrir, de passear, de divertir a valer, com as coisas mais simples e originais na sua essência. Às vezes, acordam já tarde demais, talvez... Às vezes já não acordam mais... Às vezes já nunca mais parecem voltar a conseguir Viver... arrastando-se, tão só, quase sempre, um dia atrás do outro, vivendo um dia de cada vez, às vezes, mesmo, só para o minuto seguinte, sem mais projectos, sem mais futuro...

Que bom teres descoberto também o Hector e o seu pueblo. Há coisas e pessoas que nos enchem a vida de coisas tão boas e bonitas que todo o peso da vida se desvanece e ela já vale de novo tudo a pena.

17/2/06 19:05  
Blogger Gláucia disse...

Tuquinha,
Eu estou apenas na longínqua coordenação pedagógia deste projeto, de modo que não deves te assustar.
Bjins
Elis,
Vamos ensinar o povo a mover os quadris, correr, pular. Enfim, brincar de ser feliz!

17/2/06 20:24  
Blogger Edgar Aristimunho disse...

Lindo, Glaucita, lindo.

Alguns meses depois....volto aqui

Agradável surpresa.

Posso incluir teu blog no meu?

(Ele tem só duas horas de existência.)

Bj.
Ed

1/9/06 06:18  

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Para FAL (Da série Parabéns a Você)


Para Fal, Rainha da Blogsfera,
nosso sincero desejo de muito amor
e de muitos anos de letras e de vida,
materializado nesse vaso da flor
que nos dá nome, perfume e cor: margarida.

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Ô deus, que coisa doce, amor, muito obrigada :0))))))))

Uia, eu vou tar de carro amanhão, vc não quer me mandar seu endereço, não???
beijucas
fal

16/2/06 21:12  
Blogger Gláucia disse...

Merecido.
Já mandamos.
bjs.

16/2/06 23:11  

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De Chico para Gláucia (Da série Cartas Reenviadas)

Eu acabei de receber esse cartão virtual do Chico.
Uma das flores mais bonitas que já vi fotografada.
Me lança o olhar de quem ainda, apesar.
Nessas horas eu pensando, ruminando a vida.
Entendimento me falta.
Tudo é vontade de chorar.


Gilmara, uma flor da Serra da Lapinha.

Glaucia, Não poderia deixar de lhe enviar essa foto. Essa é a foto da Gilmara, uma florzinha que nasceu em Lapinha da Serra, na Serra do Cipó, em Minas Gerais. Fui fotografar paisagens para participar de um concurso, do SESC, e fui premiado com essa foto. Não premiado no concurso, mas premiado por ter tido a sorte de ter tirado essa foto. Com certeza, é a foto mais bonita que já tirei me minha vida. Quero compartilhar com você essa doçura de imagem, para que você possa compartilhá-la em seu blog, para que muitas pessoas possam conhecer a Gilmara. Aos poucos, vou postando as fotos de Lapinha da Serra, um paraíso, ainda pouco conhecido dos turistas. Ainda bem. Está preservado e ainda não foi invadido. Torço para que não invadam e arranquem flores como essa. Não é uma margarida, mas é uma flor também especial. Abraços, Chico.

3 Comentários:

Blogger Francisco X. Ribeiro do Vale disse...

Glaucia, obrigado por ter postado essa foto no seu blog. Alem, claro, das palavras bonitas que voce colocou sobre a foto. Grande abraço. Chico

16/2/06 18:56  
Blogger Gláucia disse...

J.L,
Eu não tô conseguindo, mulher de Deus. Quando é que tu qualificas?

Chico,
eu que agradeço por teres enviado a foto. O olhar bonito é todo teu.
Um abraço,

16/2/06 22:47  
Blogger Tuca disse...

Ah, Glauca, esta foto é uma paulada... Tudo é vontade de chorar mesmo. Beijos.

17/2/06 07:47  

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quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Para Paula e Leandro (Da série Bilhetes e Lembretes)

Fiquei procurando palavras certas para dizer a vocês, quando me dei conta que bastava dizer eu também. Fiquei procurando poemas que pudessem encorajar, mas agora vejo que talvez seja melhor dizer apenas estou aqui. As palavras que servem para nomear são as mesmas que servem para tentar dizer o indizível. Esse que vos queria dizer. Esse que vos queria abraçar hoje, num reconhecimento do esforço e da dedicação que os fizeram chegar até aqui. Numa demonstração da tristeza que partilho (tristeza, não derrota). No que vocês decidirem não estarão sós. Vos afianço. Contem comigo. Um a mais. Faz diferença.

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

obrigado, obrigado, obrigado, obrigado...

vc é mesmo uma grande amiga... não tenho palavras.

vou mandar o requerimento para vc dar uma olhada.

Beijo,
Leandro

15/2/06 20:06  
Blogger Gláucia disse...

Vc merece.
Vc conquistou.
bjs

16/2/06 01:44  
Blogger Gláucia disse...

Aproveitando a boca no trombone, já queria dizer também que admiro pra caramba tua determinação, tua inteligência, tua capacidade de absorver as frustrações, tua simplicidade.
Acho que o improvável aconteceu: 'o reacionário e a menina de esquerda' se tornaram grandes amigos. E tem aprendido bastante um com o outro.

16/2/06 02:15  
Anonymous Anônimo disse...

Hahahahaha, adorei, enxerguei tb a minha amizade com o Leandro aqui: "o reacionário ( ele vai adorar isso...heheh) e a menina de esquerda"!
beijos procês,
Paula

16/2/06 20:24  

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terça-feira, fevereiro 14, 2006

Sem morangos de amor e uma canção despetalada (Da série Vejo Flores em Você)

Quase uma despedida...

Não venham me dizer que era pouco tempo pra sedimentar qualquer afeto, que as amizades se fundam na convivência reiterada, no sucessivo compartilhar das mesmas cenas, donde sai a matéria da leveza e dos risos e das distrações. Eu sei disso. Mas também sei que nenhuma relação é igual a outra. E que para muitas o que interessa não é o tempo medido em horas, dias, anos, mas um tempo interior, fora do tempo. E aconteceu: num desses clarões produzidos pelos raios no meio das tempestades, reconheci o rosto desde sempre vagamente terno do amigo que já lá estava desde antes. No traçado daquele rosto, um mapa de insuspeitadas cumplicidades que se revelaram com rapidez: o nome da rosa, o gosto dos morangos, o líquido equilibrista que faz brilharem os olhos, o esforço que o represa, as mãos brancas de dedos longos que não sabem bem onde encostar, o amor da prosa e da poesia.
Porque desenhados juntos, porque palavras de encontro e gestos contidos, tivemos um modo peculiar de partilhar tanto da agonia como da alegria. "Se eu for embora, não vais me perder", me disse um dia. E acreditei, porque precisava. E é verdade, porque eu preciso. Ficou algo em mim: talvez "uma só rosa...insubstituível", porque sabíamos que nada mais éramos além de "frágeis intermitências na partida continuada."
Não, não me digam o que eu poderia e o que eu não poderia sentir agora. Não me consolem dizendo que, afinal, foi tão pouco tempo que nem me 'acostumei'. Amigo não é costume. Amigo é amor, porto seguro, elo c'o mundo, luz sobre o sentido obscuro das passagens mais difíceis.
Não, por favor, não me digam que a vida é feita de encontros e despedidas, de chegadas e de partidas. Eu sei muito bem de tudo isso e nada diminui a dor que senti ao compreender a mesa vazia. Eu sei muito bem, e saber não vale um sachet de açúcar.


Imagem: Gregória Correia
Citações: Rainer Maria Rilke

4 Comentários:

Blogger Leonor disse...

Muito bonito.

14/2/06 08:01  
Blogger Gláucia disse...

Papalagui,
obrigada pela visita. Fico muito feliz quando gostas dos meus textos.

JL,
Que bom que gostaste do texto. Sinto falta dos comentários longos! Mas sei bem o aperto que estás passando por estar no mesmo barco. Depois que passar tudo isso, vou querer aprender a colocar música também, conforme os ensinamentos da Miss Pearls.
E vou adorar ver o MI no topo da lista.
Bjocas.

14/2/06 22:00  
Blogger Tuca disse...

Glauca, amei o texto. Me tocou muito.
Te adoro! Acho que estou precisando de ti... De que venhas logo. Que o tempo voe. Beijos.

14/2/06 23:55  
Blogger Gláucia disse...

Tuquinha,
também estoucom muita saudade. Acho que só aguento pq sei sem demora estaremos juntas.

15/2/06 01:07  

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É Você (Da Série bem-me-quer, mal-me-quer)


É você
Só você
Que na vida vai comigo agora
Nós dois na floresta e no salão
Nada mais
Deita no meu peito e me devora
Na vida só resta seguir
Um risco, um passo, um gesto rio afora

É você
Só você
Que invadiu o centro do espelho
Nós dois na biblioteca e no saguão
Ninguém mais
Deita no meu leito e se demora
Na vida só resta seguir
Um risco, um passo, um gesto rio afora
Na vida só resta seguir
Um ritmo, um pacto e o resto rio afora

(Tribalistas)
Imagem: Anne Geddes

2 Comentários:

Blogger Leonor disse...

Adoro os Tribalistas

14/2/06 08:41  
Blogger Gláucia disse...

Tuca, me manda essa música. Eu não tenho. Acho que não conheço. E amei a letra.
As tuas fotas, ultimamente, tão tudibom e mais um pouco.
bjs

14/2/06 21:49  

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segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Menos só (Da série Diálogos Inusitados)

Num dia como qualquer outro, em meio a uma conversa trivial, ao telefone, ela bruscamente perguntou do que ele sentia saudades. Depois de uma pausa curta em que talvez tenha acendido um cigarro, ele disse 'da risada, da mania de encher os livros que estás lendo de papéis, dos silêncios irritantes enquanto a gente espera angustiado por uma resposta, do brilho insano dos olhos quando tens idéias novas, do perfume de morangos silvestres nos cabelos. Acho que de saber que fui menos só, muito menos só, quando estava contigo.' E ela não disse, mas pensou que também sentia saudades do sorriso leve, de algumas manias irritantes, de alguns cheiros, e da inegável sensação de ser menos só no mundo quando eram juntos.

Imagem: Still life with cosmeas, by Rein Pol

4 Comentários:

Blogger Alex disse...

Veja bem, D. Margarida Flores, isto não se faz, é maldade demais com quem já não come quindins há tanto tempo.

Eu também tive umas conversas neste mesmo tom "confessionicida". Na hora a gente fica envaidecido, mas o after-taste é um horror!!!

Beijão!

13/2/06 10:25  
Blogger Tuca disse...

Adorei, Margarida. Beijos. Saudades.

13/2/06 16:54  
Blogger Margarida disse...

Veja bem, Mr. Cafeína, não me senti envaidecida. Me senti triste, pensando em como a vida poderia ter sido diferente se a moça tivesse sido menos orgulhosa, se o moço tivesse sido menos covarde, se, se, se, se. Ela não se cala por maldade. Ela se cala por não conseguir fazer diferente. Mas supondo que ela conseguisse falar, não seria maldade maior dizer 'eu também', veja só tudo que conseguimos jogar fora?

13/2/06 17:35  
Blogger Margarida disse...

Tuquinha, beijocas.

13/2/06 17:35  

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Queria flores assim (Da série Inéditos e Dispersos)



Queria flores assim, de surpresa, sobre
uma mesa que desde sempre sobremesa.
Queria assim, outros verão, eu mais outono,
perdida em texturas de seda, certeza
só, em vertigem, pela passagem secreta
que dá na alameda onde não há abandono.
Queria assim, ainda vivas, em perfume
e colorido, mas o gesto tom pastel,
que me devolvesse o sono. E no gosto,
no gosto o agridoce verde silêncio,
minha lembrança desse teu rosto sem dono.

Imagem: Tulips - Eric de Vree

4 Comentários:

Blogger Tuca disse...

Lindo, Lindo, Lindo! Adoro tudo o que escreves. Coruja...

13/2/06 16:55  
Anonymous Anônimo disse...

:o)
Belo poema, Glaucia! Muito, muito! Beijo! Jaime

14/2/06 08:00  
Anonymous Anônimo disse...

Muito bonito... Parabéns!!! Continue. Bjs.

14/2/06 16:58  
Blogger Gláucia disse...

Tuquinha, suspeita suspeitíssima, coruja corujíssima, mas íntima de Eça. Assim que...
Jaime, não fazes idéia do poder que tem um elogio vindo de ti. Uma leve noção: entrei em surto JD (Jump Discontrol) - sobre uma superfície macia, claro, que eu sou doida mas não sou burra! Obrigada, do fundo do coração. Bjs
Anômimo,
(eu adoro os anônimos)
obrigada pelo comentário. E volte sempre.

14/2/06 21:43  

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sábado, fevereiro 11, 2006

Bandolins (Da Série Trilhas Sonoras do Dia)


Como fosse um par que nessa valsa triste
se desenvolvesse ao som dos bandolins
E como não e porque não dizer
que o mundo respirava mais se ela apertava assim
Seu colo e como se não fosse um tempo
em que já fosse impróprio se dançar assim
Ela teimou e enfrentou o mundo
se rodopiando ao som dos bandolins

Como fosse um lar seu corpo a valsa triste iluminava
e a noite caminhava assim
E como um par o vento e a madrugada iluminavam
a fada do meu butiquim
Valsando como valsa uma criançca
que entra na roda noite está no fim
Ela valsando só na madrugada
se julgando amada ao som dos bandolins


(Oswaldo Montenego)
Imagem: Sweetcharade

6 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Adoro esta música! Adoro o blog. Beijo às Margaridas.

13/2/06 16:57  
Anonymous Anônimo disse...

Eu também. Esta música é linda.

13/2/06 17:03  
Anonymous Anônimo disse...

Eu também. Esta música é linda.

13/2/06 17:03  
Blogger Gláucia disse...

Rita e Pri,
sintam-se em casa. Que bom que vocês comentaram. É jóia ter esse retorno! É saber que não estamos falando sozinhas. Que alguém na frente de alguma telinha, em algum lugar desse mundão de Deus está se identificando com o que a gente está sentindo. E isso dá uma sensação de aconchego tão boa!

13/2/06 22:13  
Anonymous Anônimo disse...

Ai Tuca e Gláucia, não acredito que vi essa música neste blog que eu adoro! Esta foi simplesmente a música que eu entrei na igreja no meu casamento! Beijos, adoro vocês.

14/2/06 15:59  
Blogger Gláucia disse...

Letícia, pelamordedeus, como é que pode tanta coincidência? Quer dizer, não é coincidência. Óbviamente vens aqui e vamos lá por gostarmos das mesmas coisas e termos passado por experiências parecidas recentemente. Claro.

14/2/06 21:47  

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sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Em direção à noite (Da série Sagrados e Consagrados)


Heimlich zur Nacht

Ich habe dich gewählt
Unter allen Sternen

Und bin wach - eine lauschende Blume
Im summenden Laub.

Unsere Lippen wollen Honig bereiten,
Unsere schimmerden Nächte sind aufgeblüht.

An dem seligen Glanz deines Leibes
Zündet mein Herz seine Himmel an -

Alle meine Träume hängen an deinem Golde,
Ich habe dich gewählt unter allen Sternen.


Às escondidas em direção à noite

Eu te escolhi
Dentre todas as outras estrelas

E sou frágil - uma flor que espreita
Entre a folhagem sussurrante.

Nossos lábios querem gerar mel
As nossas noites brilhantes estão em flor.

No bendito esplendor do teu corpo
O meu coração encontra o seu céu

Todos os meus sonhos dependem do teu ouro,
Eu te escolhi dentre todas as outras estrelas.


(else lasker-schüler, tradução adaptada da que encontrei aqui: www.arlindo-correia.com)

Imagem: Hugo Tinoco

3 Comentários:

Blogger Leonor disse...

Sabe alemão, Glau? Mais uma coincidência. Bjs

10/2/06 22:52  
Blogger Gláucia disse...

Não. Só estudei um semestre de alemão. Apenas adaptei uma tradução que encontrei na página indicada ali embaixo. Bjs.

10/2/06 23:28  
Blogger Tuca disse...

Glau, que lindo este poema! Adorei. Beijo. Tuca

11/2/06 13:44  

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Um Estudante de Filosofia (Da série Bilhetes e Lembretes)


Ali, no Conto as Favas, texto simplesmente lindo do Gabriel Perissé. Uma cousa.
********************************
No Animot, outro, imperdível, do Walter Salles, aquilo tudo, que ainda por cima escreve isso.
********************************
O conteúdo do post PQP, do dia 08/02, ali no Fonsecoides, é de embasbacar qualquer ser humano com meio neurônio manco amarrado com fio de plástico.

0 Comentários:

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quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Semente Harmônica Amarela (Da série Imorais e Surreais)


Vi lá no César o lance do kin. Não faço a mínima idéia do que significa, mas fui lá na página que a Ana indicou

e calculei o meu. É isso aí. Calculem o de vocês. E se alguém entender, me explique, por favor.
Mesmo sem entender nada, achei semente harmônica amarela um bafo. Amarelo é o centro da margarida...

03 / 12 / 1971

Crono-Psi: 91


Kin 44
Semente Harmônica Amarela


Potencializo com o fim de focalizar
Comandando a percepção
Selo a entrada do florescimento
Com o tom harmônico da radiação
Eu sou guiado pelo poder do livre-arbítrio



'Sem tensões, livre e com sabedoria, comando a sementeira de minha realização.'


FAMÍLIA TERRESTRE
Imagem Imagem Imagem Imagem

CASTELO VERMELHO LESTE DO GIRAR
Oráculo

Guia
Poder Guia

Antípoda
Antípoda

UMBRAL GALÁTICO
Análogo
Análogo

Oculto
Oculto
Onda Encantada 4 Sol Amarelo



1 Comentários:

Blogger Cé S. disse...

Pra Silvana, a pessoa que começou esta história de kin, o grande barato é comparar teu kin com o das outras pessoas, e ver o que é dito de tal combinação. Parece que há famílias que combinam melhor que algumas outras, e famílias que combinam pior.

Silvana usa isso como método para saber com quem está lidando. Foi por isso que calculou nossos kins logo que eu e Mariana chegamos na casa dela.

10/2/06 08:03  

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Família - Fragmentos (Da Série O Amor nos Tempos do Cólera)


"(...) No colégio Dora conheceu Eunice, que se tornou a sua melhor amiga. E à medida que cresciam — as duas ficaram todo o primário e o ginásio no mesmo colégio interno — se tomaram mais íntimas. Sempre que possível ficavam de mãos dadas, cochichando e rindo. As freiras chamavam tal comportamento de bêtise e procuravam contê-las, mas sem recriminá-las por isso. Eunice era órfã, e quem a visitava nos domingos era um guardião que a tratava com um carinho artificial. Eunice e o seu guardião se agrupavam com Dora e o pai, nos domingos e também nos dias em que as alunas tinham permissão para sair do colégio, em companhia dos responsáveis, para passear em Petrópolis. Quando o curso ginasial terminou elas se abraçaram chorando e disseram que nunca deixariam de se amar.
Dora e Eunice cursaram o colegial em estabelecimentos de ensino diferentes. Vieram a se reencontrar na faculdade de direito, anos depois, e reataram com o mesmo vigor a amizade de antes. Abriram um escritório e advogavam juntas causas pertinentes ao direito da família. Dora às vezes ia dormir na casa de Eunice, ainda que Ernestino reclamasse carinhosamente do fato de a filha deixá-lo sozinho com a empregada. Ele sentia-se doente e planejava se afastar dos negócios. O seu sonho era ver a filha casar e lhe dar um neto homem, que com o tempo assumisse os negócios e continuasse a tradição da família.
Mas Dora, que se tornara uma mulher de grande beleza, recusava todos os seus pretendentes, que eram muitos. Saía com eles, ia jantar fora, ia ao cinema, mas, muito recatada, evitava qualquer intimidade com esses homens, nem mesmo permitia que a beijassem. Um dia o pai a chamou para ter com ela o que chamou de uma longa conversa. Ernestino disse à filha que estava indicando um dos seus antigos funcionários para assumir o comando dos negócios, pois estava se sentindo cada vez mais fraco e o seu médico, depois de um rigoroso exame, diagnosticara uma doença neurológica progressiva que dentro de alguns anos, não sabia quantos, o levaria à morte. E ele não queria morrer sem ver a sua filha casada e sem ter a suprema alegria de ter um neto. Ernestino disse isso com voz emocionada, segurando na mão da filha. Me promete, ele pediu, assim eu morrerei em paz. Dora prometeu, mas pediu algum tempo para realizar o desejo do pai.
Nesse dia Dora foi dormir com Eunice. A amiga mandara fazer calças largas de algodão iguais às que usavam no colégio de freiras, e que não existiam para ser compradas nas lojas. Vestidas apenas com essas calças, que apesar de toscas, ou talvez por isso, tornavam ainda mais atraentes os seus corpos delgados, as duas fizeram amor com um ardor muito intenso. Isso sim, é bêtise, disse Eunice, e as duas riram muito. Depois, Dora contou a Eunice a conversa que tivera com o pai, acrescentando que ele estava cada vez mais obstinado em seu desejo de vê-la casada e ter um neto. As duas permaneceram o resto da noite tomando vinho branco e falando desse assunto, e da frustração de não poder morar na mesma casa, acordar juntas, cozinhar, viajar, viver juntas o tempo todo das suas vidas, serem as duas uma família.
(...) O enfermeiro precisava tirar umas férias e em vez de contratar um outro Dora disse que ela mesma cuidaria do pai. Ernestino se emocionou com o desvelo da filha, que passava os dias e as noites ao seu lado. E também estava muito feliz, pois Dora prometera que assim que o pai melhorasse um pouco ela se casaria e teria um filho.
Transcorrido um mês, Ernestino morreu de uma súbita insuficiência respiratória. O médico confirmou que aquela era mesmo uma doença insidiosa de difícil prognóstico. No enterro Dora e Eunice choraram muito. O sofrimento de Dora foi tão grande que ela teve que ser internada num hospital para se recuperar.
Depois, Dora e Eunice foram morar juntas e adotaram um menino a quem deram o nome de Ernestino. O menino cresceu e as pessoas, os novos amigos que elas fizeram, diziam que ele era a cara da mãe."

(Rubem Fonseca - Texto extraído do livro "Histórias de Amor", Cia. das Letras, São Paulo, 1997)
Imagem: Mônica Ramalho



4 Comentários:

Blogger Cé S. disse...

Gláucia, achei ótimo o tema da tua dissertação. Espero mais informações, e desejo sucesso!

9/2/06 00:42  
Blogger Gláucia disse...

Valeu. Mais informações pode significar inclusive aberto ao debate? Olha, não diz isso que pode custar caro...

9/2/06 00:42  
Blogger Cé S. disse...

Debate! Isso aí! Não entendo muito, mas me interesso.

9/2/06 11:51  
Blogger Gláucia disse...

Ah, tá. Eu acredito. Mas, mesmo q não entendas muito, conseguindo pensar já é grande coisa. Café?

9/2/06 12:38  

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quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Elis, que nem sabia da medalha (Da série Nunca te vi, sempre te amei)

Eu estava tentando arranjar um jeito de contar sem parece muiiiito exibida. Mas não achei. Então, vá lá: lembram a corrida de terça-feira passada? Aquela dos 20km, revezamento? Pois é. Nossa equipe ganhou medalha. Ah, vocês estão pensando naquelas, por participação, que todo mundo ganha ao completar o percurso? Não foi. Foi medalha pelo tempo mesmo. É, acreditem. A equipe maravilhosa era formada pela Suzana, pelo Ricardo, pelo Cristiano e por mim. Mas quem frequenta esse blog sabe que o ser humano é distraído e desastrado. Adivinhem? Corri e fui embora. Na hora do bem bom, premiação, champas, burburim, coisa e tal, eu já estava bem linda e banhada em casa. Só fiquei sabendo na quinta-feira. Mas ela tá aqui. Bem lindinha e bem dourada. Pegaram pra mim.
Aí, ontem, a Elis fez essa cousa sem nome comigo. Sim, senhoras e senhores, ela postou isso (sem saber sobre a medalha):

Para Glau, com amor!

Imagem: Howard Schatz

Do outro lado do mar, do outro lado do mundo. Alguém.

Alguém que estando lá, está bem aqui, do lado de cá do mar, do lado de cá do mundo.

Corre! Corre com vida, pela vida, para a vida.

Escreve! Escreve ao sabor e com a força do vento seu.

Vive! Agarra a vida com a alma e corpo todos.

Vive! Enche o mundo e ele fica "só" tão mais belo.


Desnecessário tecer qualquer outro comentário. Aliás, seria desnecessário, não fosse o fato de que também estou a pensar desde alguns dias em fazer um post muito similar ao que ela fez hoje. Acabei adiando pra quando acabar a dissertação e apenas acrescentando mais uns links aí ao lado. E venha alguém tentar me convencer que nós não somos poeira da mesma estrela, venha...


6 Comentários:

Blogger Lo disse...

Oi, Glaucia!
Minha aula é às 19h, e não às 19h30min. Ando confundindo isso, q coisa. Aos nos encontrarmos, não repara se eu estiver quietinha, plis, é que me concentro no Pilates. ehehe
ah! parabéns pela medalha!

8/2/06 10:40  
Blogger Gláucia disse...

Ai, Thiago, já. Fazer o que? A mulé fuça, fuça. Eu sei que deveria ser educada e esperar o convite e coisa e tal. Eu até tentei. Tanto que não comentei lá ainda. Mas tenho bicho caripinteiro. Não adianta. Bjos.
Lô,
essa semana não tem chance. Mas tava pensando o seguinte: a gente tinha era que tomar um café ou algo assim, pra falar bastante e dar risada, pq tentando respirar certo e trabalhar o abdômem é que não vai rolar.

8/2/06 19:08  
Blogger Tuca disse...

Ah, fiquei toda orgulhosa da minha irmã "Glau Gump"!
Chiquérrima esta coisa de ganhar medalha em corrida oficial.
Parabéns!!! Beijos. Te amo.

8/2/06 23:30  
Blogger Gláucia disse...

J.L, amiga, eu também ando sofrendo. Essa semana quase entreguei os pontos. Não é fácil. Mas o lema é VAI DAR CERTO, sim.
E quanto às medalhas, são tributáveis, na verdade, aos excelentes atletas que compunham a equipe (era revezamento). O meu tempo baixou, mas continua sendo tempinho médio de amadora.

Tuquinha,
Quem diria, hein? Mas vale a explicação pra J.L. A equipe é que era dez.

9/2/06 03:49  
Anonymous Anônimo disse...

Nunca te vi, sempre te amei! Quanta verdade, Glau!

Esta partilha de pensamento, de evento, de esperança e tormento, de riso e choro ao mesmo tempo, não tem momento. É sempre!

Parabéns, Glau! Pela tua medalha, mas, sobretudo, pela tua postura. "Apenas" TU!

9/2/06 07:10  
Blogger Gláucia disse...

Ai, thiago,
Tava só me fazendo um pouquinho.
bjs

9/2/06 17:58  

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terça-feira, fevereiro 07, 2006

Canto da Liberdade (Da Série Canções do Exílio)



"Trova do Vento que Passa"

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país

minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

(Manuel Alegre de Melo Duarte)
Imagem: Rui Calado Nogueira

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Um dos meus poemas favoritos! De um dos meus poetas favoritos! E "Que ninguém mais cerre as portas q Abril abriu!"

7/2/06 20:43  
Blogger Gláucia disse...

Amei. O poema. A foto. O conjunto. A semeadura da canção. A crença na resistência...
Bjs

8/2/06 02:01  

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Corrente (Da série fora de série)

A corrente, mandada pela Fal para as MM's, devidamente copiada aqui:
Vamos lá

1. Pegue o livro mais próximo de você
2. Abra o livro na página 23
3. Ache a quinta frase
4. Poste o texto em seu blog junto com estas instruções

"Lavínia lia o futuro nas estrelas (onde quer que esteja, sabe que hoje é o dia do trânsito de Urano, o deus vagaroso)./ E eu, no que acreditava? Difícil dizer. Talvez na beleza, a única coisa que me pôs de joelhos no mundo. À minha maneira, eu seguia nesse tipo de religião."

marçal aquino, eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, Cia da Letras, 2005.


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domingo, fevereiro 05, 2006

Un Vestido y Un Amor (Da Série trilhas sonoras do dia)


Te vi
Juntabas margaritas del mantel
Ya sé que te traté bastante mal
No sé si eras un ángel o un rubí
O simplemente te vi
Te vi
Saliste entre la gente a saludar
Los astros se rieron otra vez
La llave de Mandala se quebró
O simplemente te vi
Todo lo que diga está de más
Las luces siempre encienden en el alma
Y cuando me pierdo en la ciudad
Vos ya sabes comprender
Es solo un rato no más
Tendría que llorar o salir a matar
Te vi, te vi, te vi
Yo no buscaba a nadie y te vi
Te vi
Fumabas unos chinos en Madrid
Hay cosas que te ayudan a vivir
No hacías otra cosa que escribir
Y yo simplemente te vi
Me fui
Me voy de vez en cuando a algún lugar
Ya sé, no te hace gracia este país
Tenías un vestido y un amor
Y yo simplemente te vi

(Fito Páez)
Imagem: Adolfo Lázaro

9 Comentários:

Blogger Gláucia disse...

Ouvi ontem, cara pálida. Ontem. Conexão inter-galáctica. Bjos

5/2/06 15:40  
Blogger Gláucia disse...

E essa foto tá linda.

6/2/06 00:00  
Blogger Tuca disse...

É mesmo muito bonita.
É "El Caminito"...

6/2/06 09:35  
Anonymous Anônimo disse...

Singelo e belo!!

6/2/06 11:14  
Blogger Miranda disse...

Combinação perfeita entre a música e a foto. Adorei. bjos

6/2/06 19:13  
Anonymous Anônimo disse...

Eu AMO essa música. Tens noção do que é isso?

Beijos para todas as margaridas...E muita saudade...e palavras querendo explodir.

N.

6/2/06 20:01  
Anonymous Anônimo disse...

Mi sembra Il caminito

6/2/06 22:28  
Blogger Lauro Rocha disse...

Fito é sempre muito bom. Uma de minhas preferidas é 11y6. Uma obra prima.

7/2/06 00:09  
Blogger Gláucia disse...

Gean,
volte sempre e esteja em casa. A idéia do jardim é beleza: foto, pintura, poesia, e, claro, como é um blog, dia-dia.
Niña,
fico feliz com palavras querendo explodir. Venha explodir aqui também.
Adelaide,
é 'El Caminito'. Atum procê.
Bah, Lauro, eu também adoro Fito. E adorei o Bar. Vou ser frequentadora.
Bjos pra todos vocês.

7/2/06 00:52  

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sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Soneto Inglês (Da série Sagrados e Consagrados)


Como o silêncio do punhal num peito,
O silêncio do sangue a converter
Em fio breve o coração desfeito
Que nas pedras acaba de morrer,

Vive em mim o teu nome, tão perfeito
Que mais ninguém o pode conhecer!
É a morte que vivo e não aceito;
É a vida que espero não perder.

Viver a vida e não viver a morte;
Procurar noutros olhos a medida,
Vencer o tempo, dominar a sorte,

Atraiçoar a morte com a vida!
Depois morrer de coração aberto
E no sangue o teu nome já liberto...

(Alexandre O'Neill, Poesias Completas)

Imagem: Yumiko Ichikawa

4 Comentários:

Blogger Tuca disse...

Estive fora uns dias... Problemas no computador, não conseguia conectar. Lindo este poema. Beijos.

5/2/06 14:49  
Blogger Gláucia disse...

Esse cara é o arraso dos arrasos. Tem outro dele, que o Chico tinha me indicado, que é tão lindo, mas tão lindo. Me fez chorar tanto que fiquei com pena do caro leitor e não postei. Aliás, adivinha o signo dele? Yes, sagitário. Adivinha o signo do Rilke. Yes, sagitário (dia 04, por pouco...). Incrível, que signo...

5/2/06 15:39  
Blogger Tuca disse...

Guria, como tu és convencida!!!!!!!

5/2/06 16:27  
Blogger Miranda disse...

E isso que ela ainda não veio aqui contar que ganhou medalha por classificação na corrida da semana passada. Tá que é um general, só falta sair com as medalhas por aí.

6/2/06 19:12  

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quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Sol escaldante, sem vento (Da série Informes do Tempo)

Hoje é feriado em Porto Alegre. Feriado em Porto Alegre, numa quinta-feira de janeiro, 40º, significa ruas desertas sob sol escaldante. Cidade-fantasma. E a pessoa vai ficando molinha, molinha. Uma coisa. Pra não me liquefazer (tipo a Anne), saí pra dar uma corridinha. Coração lá nos 186 bpm. Gente, tá muiiiito calor. Eu estou derretendo. Derretendo. Não consigo pensar. Não há elegância que se sustente, Jisuis.
Preciso fazer um adendo: no final da tarde, a Cidade Baixa e a Beira-Rio estavam cheias de colorido e burburinho de gente brilhando.

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Glau,

Mil vezes obrigada. Li tudo que escreveste para mim e me emocionei. Estou completamente sem tempo, mas amanhã estou de folga e te escreverei.

Muita saudade,
K.

5/2/06 13:37  
Blogger Gláucia disse...

Vou esperar Keikita. Queria notícias amanhã, mesmo. De preferência no final do dia. bjos

5/2/06 15:37  
Blogger isabel alix disse...

mas você corre! uêpa, que bacana!

sabe que quando tento correr meu pulmão QUEIMA e não consigo?
será que um dia, com muita insistência e treino, isso passa?

vi a pequena Clara no MM.
linda!!! linda!

6/2/06 15:47  
Blogger Gláucia disse...

Belly, que legal te ver aqui.
Eu corro sim. Sou viciadinha, pra dizer a verdade. Não posso passar muito tempo sem minha cachaça.
Se tu quiseres, claro que consegues. Quando comecei eu corria um minuto e caminhava quatro. Aí depois comecei a caminhar três e correr dois. Aí caminhar 7 e correr três. E assim por diante. Quando a gente consegue correr quinze seguidos é a glória.
Ah, e a mãe coruja agradece, pq a filhota é linda mesmo.
Já foste no blog dela? clara-lua.blogspot.com . Tá cheio de fotos e narrativas sobre a vida da pequena lunática.

7/2/06 00:44  

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As panturrilhas (Da série Vestígios do Dia)


A corrida de ontem estava óteema. Éramos dezesseis na equipe. Minhas panturrilhas (sim, elas mesmas, as batatas das pernas) estão duras como pedras. E amanhã vai ser pior (as famosas 48h). Mas...melhorei meu tempo em quase 3 minutos. Sabem o que é isso? É muito pra quem não está fazendo sequer treinos regulares. E muito menos treinos de velocidade. Fiquei feliz (leia-se - endorfinada). Vou baixar ainda mais o tempo pra próxima (agora em fevereiro). Treino amanhã. Tô aqui me empanturrando d'água. Eu preciso emagrecer. Eu preciso emagrecer. Eu preciso emagrecer. Vocês podem achar exagero. Mas 1 ou 2 kilos podem fazer uma diferença de minutos. (Tá, e daí, perguntaria alguém com cérebro numa hora dessas...)

Ah, e por falar em cérebro, é verdade que o meu não está lá essas coisas. Mas, o que me consola, é que o de
Roberta Arabiane está muito pior. A moça combinou de me encontrar para instalarmos coisas e loisas num computador. E eis que passei o dia a esperar o tal telefonema. Que não veio. Ainda bem que a Dôda (a gata) e eu nos viramos muito bem sozinhas, obrigada. E como eu tenho outra filha pra alimentar, tive que voltar pra casa e não fiquei a esperar por ela. Pois...

E eu, demente, não tinha visto que the pillow blog está cheio de traduções novas malavelósas, como só as faz o Andrei. Vão lá correndo. Ou melhor, vão lá devagar. Com tempo. Ah, e em casa. Eu já dei king kong em web café lotado por causa de uma tradução dele. É, senhoras e senhores, ele tem poder.

Notícia boa do dia: mais amigos grávidos. Agora são dois para chegar ao mundo em alguns meses. As futuras mamães, Marília e Raquel, estão sentindo coisas que não senti: as tais dores do crescimento uterino e enjôos. Minha aposta é que o Alexandre vai ser um pai-mãe ou pai-cavalo-marinho, tipo o Rogério.

Vou voltar ao trabalho antes que me abata algum sono invencível (o que seria até normal...)

Imagem: Sweetcharade

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Como me revejo em ti, querida Glau. Não na corrida :o), isso não, mas em tantas outras coisas... Ele é a força de vontade e energia que se têm que ir buscar, por vezes, sabe Deus onde, mas se buscam sempre, ele é a força de viver que anima e se quer anime sempre mais, ele é o trabalho que não pára nunca, ele é as coisas simples, feitas maravilha, obra-prima, ele é as coisas mais complicadas, dando luta e nós sem desarmar, ele é o/ gato/a, até :o), ele é os amigos que são, "só" uma grande parte da nossa vida, ele é tanto, amiga.
Que saudades tinha das tuas visitas ao meu blog. Que saudades de ti! Uma saudade que me levou, até, coincidência das coincidências, a adormecer e a acordar pensando em ti esta noite mesma. E vim aqui, acabadinha de acordar e antes de ir para a escola, para sorrir ao ler os teus comentários e te abraçar num abraço imenso sem terra nem mares pelo meio. Porque carinho e amizade é mesmo assim, não tem limites.
PS: Sempre estarás em Portugal na semana próxima? Acho que te dei o meu mail para qualquer contacto extra-blog, mas repito aqui: elisabete.anastacio@netvisao.pt
Espero-te, sempre!

2/2/06 05:50  
Blogger Gláucia disse...

Quem estava com saudades de visitar era eu. Ou melhor, visitar não, que confesso que ia e dava umas espiadas. Mas não me permitia comentar, pra não levar mais tempo. Fiquei muito feliz em saber que foste dormir pensando em mim e acordaste pensando em mim. Mas acho que não é coincidência. Sobre minha ida a Portugal vou te mandar mail hoje ou amanhã explicando-te os detalhes do adiamento da viagem. Um beijão.

2/2/06 21:59  
Blogger Tuca disse...

Ah propósito, a Meia Maratona de Lisboa será 26 de Março! Já estarás aqui nesta data???...
Mais informações no site http://www.lisbon-half-marathon.com/
Beijo.

5/2/06 15:00  
Blogger Gláucia disse...

Acho q não. Mas se terminar e defender antes do prazo, quem sabe... (iludida, a pobre)

5/2/06 15:35  

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