terça-feira, outubro 31, 2006

Por isso eu corro...

Eu adoro esse texto. Desde que o li, ele voltou millll vezes à minha cabeça. E as palavras vão dançando suavemente enquanto corro, quando corro...

“Corro porque sou kantiana. Não sigo os instintos da minha natureza, mas, sim, torno-me aquilo que não sou por uma razão maior. Procuro sempre dominar minhas deficiências, sendo a preguiça a maior delas. Poderia estar perfeitamente preguiçosa, mas não estou.

Outra ressalva, em minha alma, é que ela é triste. Só que não posso estar triste, pois devo, à minha obra, maior discernimento e, às minhas filhas, a força para criá-las fortes. Então também corro porque o contrário disso seria chorar, reclamar sem nada fazer e fumar mil cigarros. Dizem que quem tem a lua em Peixes, no zodíaco, como eu, tem tendência aos vícios. Corro, portanto, dessa queda para a autodestruição, pois não existe melhor química contra depressão do que a endorfina.

Correr, assim, é meu remédio. A minha meditação. Correndo sozinha, estou em minha melhor companhia. Faz mais de dez anos que sigo fiel a essa saudável rotina. Já adquiri até uma sesamoidite crônica, mas tenho um bom médico de pés, e palmilhas especiais.

Dizem, os invejosos, que correr envelhece. Bom, o tempo envelhece. E eu prefiro enfrentá-lo na minha melhor forma. Nunca tendo sido gostosa, correndo, jamais ficarei caída.

Há os que garantem que correr é um modismo urbano. Não sinto dessa maneira, ou jamais teria me tornado adepta. Sou avessa a coisas “in”. E, como também não sou dada a coletividades, sequer costumo correr em grupo. Mesmo nas corridas dos circuitos, das quais eventualmente participo, quando não estou sozinha, estou com um amigo silencioso.

Corro, acima de tudo, porque gosto. Às vezes, chego quase a chorar, tamanha a emoção. A sensação é de que estou deixando o que fui – meu passado é um resíduo que defendo, mas não carrego – para trás; e meu corpo agradece, renovado. Todos os músculos bem preparados para minha defesa, ou daqueles que de mim precisarem.

Sim, corro porque posso. Agradeço aos bons joelhos que possuo, que me sustentam sem reclamar. Claro, tenho métodos, tenho cuidados, tenho as minhas trilhas prediletas. Dou o melhor de mim nesse projeto, pois dependo dele para viver. Porque corro, não fumo mais. Porque corro, alimento-me melhor. Porque corro, não perco as sextas na biritagem – adoro correr aos sábados.

Concluindo, corro para não preencher perfis óbvios. Pois correr, no meu caso, é praticamente uma contradição. Porém insisto nisso, encarando como uma manifestação política, talvez mais significativa que votar. Corro, por causa disso, com toda a elegância e humildade. Aprendendo a cuidar bem desse corpo que Deus habita.

Por fim, eu corro porque acho bonito gente correndo, e quero que as minhas filhas vejam que todos somos capazes de mudar. E porque não suporto fazer regimes – é isso: corro porque adoro comer pizza à noite.”
(fernanda young, na revista O2 de setembro)

7 Comentários:

Blogger Tuca disse...

Adorei o texto. Dá até vontade de experimentar.

(Acho a Fernanda Young uma louca de pedra, e gosto tanto dela.)

1/11/06 11:56  
Anonymous Anônimo disse...

Muito bom, o texto, Gláucia. Muito bom mesmo. Mas eu, que tenho sérios problemas neurológicos, agora não consigo mais tirar aquela música do Roberto Carlos da cabeça: "Por isso eu corro demais, corro demais..." Será possível? Estragou todo o impacto da leitura!

1/11/06 17:57  
Blogger Tuca disse...

Hahahaha!!!......
Eu também fiquei com esta mesma música a tocar na minha mente!
Sendo assim, também devo apresentar "sérios problemas neurológicos"?!?!

1/11/06 18:58  
Blogger Muadiê Maria disse...

Ai que inveja de tanta determinação e clareza....

Martha

2/11/06 17:59  
Blogger Blogdoumbertinho,blogspot disse...

pensei que fosse tu glaucia , só depois vi que era a Fernanda!
Aí fiquei pensando porque eu nado ,e me identifiquei total com essa luta com a preguiça, e uma boa boquinha a noite com vinho.
E tem um motivo estético olfativo;o cheiro de perfume masculino na piscina.
beijosssssss

2/11/06 18:52  
Anonymous Anônimo disse...

Glau

Só quem prova do vício pode saber o que esta mulher maravilhosa está falando.
Ela corre pra comer pizza.
Eu corro pra comer doce (haha)!
E, claro, além disto, pra não deixar a tristeza dar o ar.
Amiga, faltam 10 dias pra eu estreiar, lembra?
Beijos
Dani

3/11/06 14:23  
Blogger Elaine disse...

Margarida, o texto é a tua cara, será q ela escreveu prá ti?
Lê ALSO no meu blog que acho que é prá ti.
bjos mil

3/11/06 17:28  

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segunda-feira, outubro 30, 2006

Saudades (Da série O Tempo Redescoberto)

Porque as vezes a gente sente saudades de Paris, mesmo que não tenha sido lá...

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Eiiiiiiiii
Como foi bom te ver no sábado.
Que saudade que eu estava de você. Na verdade ainda estou, porque foi tão corrido...
Ontem encontrei Rogério no jantar. Sua louca, meu aniver é no dia 21.11. O show dos homi vai ser o presente.
Vamos combinar algo, tá?!?!
Um beijo enorme de grande

30/10/06 07:12  
Anonymous Anônimo disse...

Somos dois saudosistas do que não foi, Gláucia... Beijos.

30/10/06 20:01  
Blogger Joelma Terto disse...

Somos três, então, Marconi. Às vezes eu me pego suspirando e olhando para o nada e repetindo baixinho: "que saudade eu sinto de Paris. ai, que saudade"... :)

31/10/06 17:58  
Blogger Tuca disse...

Geração Legião Urbana:
"insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi" (Índios).
Todos somos.

1/11/06 12:00  

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sexta-feira, outubro 27, 2006

Caixa de Surpresas (Da Série Vestígios do Dia)


Coisa boa acordar e encontrar sobre a cama
uma caixa de surpresas

que atravessou o mar para chegar até mim.
Glau, as encomendas chegaram.
Amei. Obrigada.


Imagem: Pós-moderno

4 Comentários:

Blogger Madame disse...

Ah, sim... eu vou ganhar uma hoje.

Beijo.

27/10/06 17:03  
Blogger Gláucia disse...

Tuquinha,
Que bom que tu gostaste de tudo. Que bom!
Se precisar de alguma peça de vestuário muito heteredoxa para períodos interessantes, já sabe: eu sento na máquina e taca-taca: apronto loguinho.
Bjs

Lili,
eu tô te esperando. Barbudos e muitas risadas é o programa básico.

27/10/06 22:54  
Blogger Tuca disse...

Coisa boa é ter uma irmã "olímpica", que pinta, borda, tricota, costura... E a minha vida vai ficando todo customizada.
Mais chique, impossível!

28/10/06 10:00  
Blogger Tuca disse...

(...) toda
(erro na concordância de gênero)

28/10/06 10:02  

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quinta-feira, outubro 26, 2006

La Reina (Da série Utilidade Pública)

Ainda não sei como, porque eu tô muito apertada das costuras...mas eu vou. Ah, vou!

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Que tu vai nada...
Vai treinar mulé que a data da corrida tá aí.
Inclusive sábado e domingo são bons dias pra nos puxarmos e colocarmos a fofoca em dia entre uma passada e outra.
Não vai gastar $$$$.
Gaste somente calorias.
Beijos
Dani

26/10/06 16:42  
Blogger Daniela disse...

rEssa moça Denize é mestre em acabar com meu orçamento!
Adoraria estar aí com vocês.
Beijos

27/10/06 14:01  
Blogger Gláucia disse...

Danis,
Eu acho que eu vou ter que ir lá gastar umas economias...
Mas eu vou treinar, eu vou treinar. JURO

27/10/06 22:50  

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quarta-feira, outubro 25, 2006

Cidadezinha Qualquer (Da Série Sagrados e Consagrados)



Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.

(Carlos Drummond de Andrade)
Imagem: João Viegas

3 Comentários:

Blogger Madame disse...

Aaaaah... eu queria uma casa com portinha vermelha, bem assim...

Beijo.

25/10/06 17:45  
Blogger Gláucia disse...

Eu também amei as casas. Amei! O Carlos, então!
Tens a música aí abaixo? Não conheço. Manda?
Bjs

26/10/06 01:56  
Blogger Tuca disse...

Estas casitas são algo!
Já enviei-te a música.
Beijos.

26/10/06 09:52  

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terça-feira, outubro 24, 2006

Al Otro Lado del Río (Da Série Canções do Exílio)


Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz
Al otro lado del río

El día le irá pudiendo
Poco a poco al frío
Creo que he visto una luz
Al otro lado del río

Sobre todo creo que
No todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima
Y yo, soy un vaso vacío

Oigo una voz que me llama
Casi un suspiro
Rema, rema, rema...
Rema, rema, rema...

En esta orilla del mundo
Lo que no es presa es baldío
Creo que he visto una luz
Al otro lado del río

Yo muy serio voy remando
Muy adentro sonrío
Creo que he visto una luz
Al otro lado del río

Sobre todo creo que
No todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima
Y yo, soy un vaso vacío

Oigo una voz que me llama
Casi un suspiro
Rema, rema, rema...
Rema, rema, rema...

Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz
Al otro lado del río


(Jorge Drexler)
Imagem: Miguel Andrade

2 Comentários:

Blogger Muadiê Maria disse...

Lindo, lindo.

24/10/06 20:44  
Blogger Tuca disse...

E o que é aquela batida inicial da música.......

25/10/06 16:15  

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terça-feira, outubro 17, 2006

Eterna Adélia (Da série Sagrados e Consagrados)


Setembro já passou, mas nunca passa, não é mesmo? Ainda mais quando um poeta querido manda um poema tão lindo de uma poeta tão inspirada. Aí setembro, signo de poesia, se fica...


Podei a roseira no momento certo
e viajei muitos dias,
aprendendo de vez
que se deve esperar biblicamente
pela hora das coisas.
Quando abri a janela, vi-a,
como nunca a vira,
constelada,
os botões,
alguns já com rosa-pálido
espiando entre as sépalas,
jóias vivas em pencas.
Minha dor nas costas,
meu desaponto com os limites do tempo,
o grande esforço para que me entendam
pulverizaram-se
diante do recorrente milagre.
Maravilhosas faziam-se
as cíclicas perecíveis rosas.
Ninguém me demoverá
do que de repente soube
à margem dos edifícios da razão:
a misericórdia está intacta,
vagalhões de cobiça,
punhos fechados,
altissonantes iras,
nada impede ouro de corolas
e acreditai: perfumes.
Só porque é setembro.

imagem: klimt

7 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Obrigado, querida...
Bjos.

Olha só do que me lembrei hoje:

te conto, depois

eu não sei direito
o que estou fazendo,
mas eu sei que,
finalmente, estou fazendo
o que quero fazer.

também não sei o que vim fazer aqui,
mas eu estou aqui.
talvez tenha vindo me certificar
de que não estamos mais juntos.
e nada pode ser mais triste.

mas eu ainda estou aqui.
por ora, me ama.
te conto, depois.

in

o lugar em que estou

17/10/06 23:16  
Blogger Gláucia disse...

Lindo, Cássio, lindo!
De doer.
Um bj,

18/10/06 10:41  
Blogger Daniela disse...

Gláucia, que coisa mais linda, obrigada!
"...meu desaponto com os limites do tempo...".
E o Klimt sempre me surpreende e me emociona também. Se eu fosse um Bill Gates da vida compraria um quadro dele.
Beijos

20/10/06 14:33  
Anonymous Anônimo disse...

Eterna não só a maravilhosa Adélia, mas o Klimt também. Ele é tudo (ainda mais que pintou um monte de ruivas, rs). ;-)

20/10/06 16:44  
Blogger denize disse...

que coisa mais linda.

20/10/06 18:42  
Blogger Elaine disse...

Oi Margarida, vim aqui prá te ver e encontrei com Adélia, mulher cujo deus é de pura obscenidade.

21/10/06 17:19  
Blogger Muadiê Maria disse...

Adélia mexe muito comigo. Esta é uma das minhas poesias preferidas.
Podei a roseira a semana passada. Tomara, meu Deus, que tenha sido no momento certo.
Um abraço,
Martha

24/10/06 11:30  

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sexta-feira, outubro 13, 2006

Chapeuzinho Rasgado (Da série Coprobelly)


Certa manhã de sol, a mãe de Chapeuzinho chamou-a e pediu que levasse doces para a vovozinha. Como a menina adorava um passeio, foi depressa apanhar sua Capa Vermelha e saiu cantando pela estrada afora. Pulando e saracoteando de alegria, distraída, levou um susto ao ver que sua capa fora parar no galho de uma das árvores. Quando conseguiu, depois de muito esforço, soltá-la do galho, percebeu que o capuz havia rasgado. Ah, que lástima, pensou Chapeuzinho, agora entristecida. Era uma Chanel herdada da avó. Não poderia, de jeito nenhum, aparecer na casa da velhinha com a roupa avariada. Lembrou, então, de Wolf, um costureiro bafo cujo atelier ficava a alguns passos da casa da vovó. Chegando na Aldeia, foi direto ter com Wolf. Após avaliar o estrago, ele concluiu que a única maneira de salvar a peça seria através da reinvenção, pois não havia como manter o antigo desenho abaulado com o necessário remendo. Ante a desolação da menina, Wolf ponderou que embora a tradição, os nomes e as marcas que passam de mãe para filha tenham seu valor, em momentos como aquele era preciso ter coragem para admitir que algo ali se rompera. Mas era provável que isso tivesse sua graça. Ajudada pelo jeitoso costureiro, a menina inventou um novo desenho para o capuz. E ficou muito orgulhosa ao vestir algo que ela mesma houvera criado.
Como a vovó notasse algo diferente na netinha, ela foi tratando de se defender 'rasgou na floresta, vovó... não tive escolha'. Ao que a velhinha retorquiu: 'não te amofines, Chapeuzinho. Já tive tua idade.' E encerrou o assunto piscando o olho. 'Passa os doces daí que eu tô faminta.'
*
Tempos depois Chapeuzinho virou costureira e foi morar na Aldeia com Wolf...

9 Comentários:

Blogger Joelma Terto disse...

por que, ó margarida, eu tenho uma certa impressão que só eu entendi tão direitinho a tua historinha. pór quê? (pra mim, cheinha de simbolismos. ;)

13/10/06 14:36  
Blogger Gláucia disse...

Talvez porque ela fosse dedicada a Biba e a ti. Mas eu esqueci de escrever a dedicatória!!!!!!!!!
Bj

13/10/06 15:08  
Anonymous Anônimo disse...

Genial! Simplesmente genial.

13/10/06 16:29  
Blogger Tuca disse...

Adorei a tua versão da Chapeuzinho!

13/10/06 16:47  
Blogger Edgar Aristimunho disse...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

13/10/06 16:57  
Blogger Edgar Aristimunho disse...

Glau, menina...
Que sutileza... Muito suave, doce, surpreendente.
Um breve passeio pela floresta dos teus escritos.
Nos guie mais seguido.
Espero.

13/10/06 16:58  
Blogger Elaine disse...

Glaucia,

Adorei a rede da chapeuzinha. A tua é quase uma cinderela fashion que se deu bem na vida. Muito bacana1

bjo

14/10/06 07:58  
Blogger Joelma Terto disse...

oh.

(óia a minha cara bege. só agora li o negócio da dedicatória. chuif)

16/10/06 15:02  
Blogger Gláucia disse...

Que bom que vocês gostaram. Que bom.
Bjs pra todos.

18/10/06 10:40  

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quinta-feira, outubro 12, 2006

Chapeuzinho Vermelho

A Chapeuzinho tá atrasada, mas vem. E seu lobo também.

4 Comentários:

Blogger Muadiê Maria disse...

Dúvida semântica: O ou A Chapeuzinho?

12/10/06 22:21  
Blogger Gláucia disse...

Obrigada, Martha. Tá arrumado.

12/10/06 23:50  
Blogger Muadiê Maria disse...

Gláucia, a intenção não foi corrigir não, viu?
É que instalou mesmo uma dubiedade que achei interessante.
Beijo,
Martha

13/10/06 18:30  
Blogger Gláucia disse...

Não tem grilo, não, Martha. Até foi bom, pq a minha era A Chapeuzinho. Mas havia também "O Chapeuzinho" da Tíccia, por exemplo.
Um abração.

15/10/06 19:37  

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terça-feira, outubro 10, 2006

Aldira (Da Série Parabéns a você)



Cadeira de balanço
Cheiro de mate
Colo de mãe

Feliz Aniversário, Aldira!

(imagem: Isidro)

0 Comentários:

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segunda-feira, outubro 09, 2006

Turandot - resto-cofee (Da série mi buenos aires querido)

Nessum dorma...
A idéia dessa série é contar coisas sobre Buenos Aires. Aí incluídos desde os restaurantes legais por preço honesto ou muito baratos (como é o caso do de hoje) até as livrarias que não ficam no centro, mas que abrigam muito mais do que bons livros a precitos comoventes.
O Turandot fica em Palermo Hollywood (Fitz Roy, 1747, 47715355) e está sempre aberto. O lugar é pequeno e o ambiente é simples. Ao entrar, o incauto mergulha no generoso sorriso da dona da Casa. E já começa a se sentir 'aquecido'. Nada anuncia ou promete a esplêndida sequência de iguarias que virá. Experimentamos três dos muitos pratos húngaros oferecidos pelo restaurante, pra conhecer. Se os pilas estão contados, o negócio é pedir o menu do dia (entrada, uma taza de vinho, prato principal e sobremesa por 12 pesos). Na quarta-feira, por exemplo, é servido o Gulyas, "spatzele" húngaros, acompanhado com Pörlkölt - um guisado largo, com a carne bem escurecida e cozida, a se desmanchar de tão macia. O segredo da preparação do Pörkölt, pelo que entendi, além da páprica - quantidade e qualidade, é o fogo, pois a carne fica na panela desde muito cedo até a hora de servir. Fiquei me devendo pra outra vez o Ciervo con Salsa Silvestre Anabella, que é o prato principal do menu de quinta. Turandot é recomendadíssimo pra quem gosta de comida com personalidade e ambiente simples. Ah, e cada prato tem uma história! Foi lá que descobri que 'milanesa', por exemplo, não nasceu em Milão, apenas foi levado para a Espanha (onde recebeu o nome) por um milanês. Da mesma maneira, pasmem senhores, o lomo canadense não nasceu no Canadá, a Berlinesa não é um invento dos alemães e a salada russa (delícia) não tem nada a ver com a Rússia.
O importante a deixar registrado é: lá estando, não deixe de visitar Turandot, amigo viajante...

1 Comentários:

Blogger Tuca disse...

Fiquei com água na boca......

10/10/06 20:04  

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quinta-feira, outubro 05, 2006

Sono (Da série La vie en close)


Hoje eu quero dormir assim.
Toda noite.
A noite toda.
Inteira.
Só levantar da cama de manhã.
imagem: irisz agocs, daqui

5 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Gláucia, vim cá agradecer a visita e o comentário e, mais uma vez, me deparo com excelentes postagens. Estou te "lincando" por lá. Beijos!

6/10/06 20:30  
Blogger irisz disse...

gracias muchos! (yo hablo espanol un poquito) :))

thanks a lot!!!

7/10/06 06:20  
Blogger Tuca disse...

Amei estas fotinhos.

8/10/06 09:08  
Blogger Elaine disse...

nana nene!

8/10/06 19:31  
Blogger Gláucia disse...

Marconi do céu, eu já tô até com vergonha de ainda não ter feito o link, pois eu vou quase todos os dias lá dar risada!

Irisz,
Nada pra agradecer. Eu que sou grata por poder usar ilustrações tão lindas!

Tuquinha,
me emelha, filha. Me emelha.

Elaine, frô, bj.

9/10/06 11:51  

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Bom dia camaradas (Da série a Poesia Redescoberta)

Antes de guardar o livro na estante, queria dar um gostinho:
Para mim tinha sido bom, agora que tudo tinha passado, termos corrido juntos. Claro que era só um pensamento, mas de algum modo acho que essas coisas ficam assim guardadas no coração das pessoas, e eu e a Romina já éramos muito amigos, o termos fugido juntos do Caixão Vazio era mais uma coisa só nossa. Não falamos sobre isso, mas naquele dia, naquela tarde com o sol ali a fazer o momento ficar ainda mais bonito, acho que ficámos muito mais amigos.
(...)
as vezes numa pequena coisa pode-se encontrar todas as coisas grandes da vida, não pe preciso explicar muito, basta olhar.
(...)
Todo depende de los hombres, de sus corazones, de la firmeza con que luchen por sus ideales, de la simplicidad que pongan en sus acciones, del respeto que sientan por los compañeros...
PALAVRAS DO CAMARADA PROFESSOR ÁNGEL

POR ACASO NESSA manhã já não acordei bem-disposto, apesar de ser dia de ir ao aeroporto levar a tia Dada. Isso das despedidas, eu não gosto nada.
Matabichámos cedo porque era preciso ir "fazer o ché kingue", como dizia o meu tio. Eu avisei logo à tia Dada que era melhor ela alimentar-se bem porque às vezes demorava mais tempo estar à espera de ir para o avião do que viajar até Portugal.
- Deves estar enganado, filho, porque a viagem são oito horas... - ela sorriu.
- Não estou enganado, tia, depois num diz só que eu não t'avisei, yá?
Eu sabia o que estava a dizer. Fomos levar as malas àquela hora, e só o "ché kingue" demorou três horas, revista malas daqui, embirra com o peso dali, perguntas pra acolá, passaporte pra acoli, enfim, o mesmo de sempre. O voo então era ao meio-dia, mas lembro-me que às dez da noite foi quando ela seguiu para o avião, que só levantou voo às onze e meia. Dias mais tarde falei com ela ao telefone:
- Você não brinca com a Taag, ouviu? - e ela riu.

Nessa mesma tarde, a Romina cumpriu a promessa do afamado lanche, que estava uma delícia, tudo cheiinho de sobremesas deliciosas e com nomes complicados, passando pela fartura de gasosas, a mousse de chocolate, o bolo de banana, até tinha tanta kitaba mas só consegui atacar três pires. O Murtala não tinha vindo, não sei se era vergonha do vómito da última vez ou vergonha da queda que ainda nem tínhamos lhe estigado em condições. Mas estavam lá os camaradas professores Ángel e María, o Cláudio, a Petra, a Luaia, a Kalí, eu e o Bruno. Estava um bom ambiente, embora devo dizer que continuava no ar aquele cheiro da despedida...
Puseram um filme, e a mãe da Ró, que é muito atenta, trouxe dois pires com compota de morango, um para cada um dos camaradas professores. Era ver aquelas caras: olhavam para o doce a rir, comiam uma colherada, ficavam a chupar o doce na boca, demoravam, olhavam um para o outro, ele e a mulher, a sorrirem por causa de uma compota de morango, eu acho que aquela era uma cena muito bonita, mas não podia dizer a ninguém, senão ia sair estiga.
Era um filme de guerra, e foi a partir daí que o camarada professor Ángel começou a falar dos americanos, que eles balda - vam bué, que eles ganhavam sempre nos filmes mas que na realidade também comiam bué de porrada, mas de facto, nós começámos a dizer, nos filmes americanos o artista era sempre o melhor, nunca acabava o carregador da metralhadora dele, não era como a aká que só tinha 30 balas, uma vez eu e o Cláudio contámos, o muadiê teve dois minutos e meio a disparar sem parar e ainda sobrou uma bala no fim para ele disparar na granada que fazia explodir a ponte, ché, aquele muadiê era craque.
Quando o filme acabou, é que foram elas: eu bem que tinha sentido o cheiro da despedida, porque despedida tem cheiro, vocês sabem, né?, tanto que quando acabou o filme o camarada professor Ángel quase conseguiu recusar o pires de compota que a mãe da Ró lhe ofereceu, porque disse que queria dizer umas coisitas, mas depois lá resolveu comer a compota primeiro e falar depois. Na verdade, ele não quis dizer umas coisitas, quis dizer várias coisas:
Bueno, no resulta fácil decir esto que tengo que decir ahora, y principalmente no quería estropear este ambiente tan bueno que estamos viviendo aqui. Pero ustedes son, de cierto modo, no sólo nuestros alumnos, míos y de la camarada profesora María, sino también grandes amigos nuestros. Y es por eso que la camarada profesora María y yo decidimos que íbamos a darles esta noticia hoy, aquí más reservadamente, y no mañana cuando toda la escuela recibirá esta información.
(A Romina olhou para mim, ela sentiu o cheiro nesse momento.)
Ustedes son jóvenes, pero ya se deben haber dado cuenta de que muchas cosas han cambiado en su país en los últimos tiempos... Las tentativas de acuerdos de paz, la llamada presión internacional, todo eso no pasa sólamente en el telediario, va a pasar de verdad en su país, en sus vidas, en sus amistades... Su país está cambiando de rumbo y eso, como siempre, tiene consecuencias. La revolución, como decia Che Guevara, tiene muchas fases, unas más fáciles y otras más difíciles. Bueno... (tossiu) lo que les tengo que decir es que dentro de muy poco tiempo, yo, la camarada profesora María, el camarada profesor de Química y tantos otros cubanos que se encuentran aquí, van a regresar a Cuba.
(...)
Aí, aconteceu-me aquilo que às vezes me acontece, comecei a ver tudo tipo em câmara lenta, como se fosse um filme a preto e branco: os copos a baterem, os sorrisos nas bocas de todos, a Petra com os olhos encarnados e, finalmente, o brinde!

Na minha cabeça chegou uma mistura de frases: um brinde à partida de tantos cubanos, um brinde ao fim do contacto com os camaradas cubanos, um brinde ao fim dessa colaboração de amizade daquele povo com o nosso, um brinde também ao fim do ano lectivo, um brinde, já agora, à partida do Bruno, um brinde ao facto de não sabermos quem fica na turma para o ano que vem, um brinde porque não sabemos se alguém vai escrever para estes professores cubanos, um brinde porque eles quando chegarem lá em Cuba, por causa do tempo cumprido em Angola, se calhar vão ter melhores condições de vida, quem sabe mais carne por semana, quem sabe um carro, quem sabe algum dinheiro a mais, quem sabe... Já agora um brinde às palavras sinceras do camarada professor Ángel, um brinde às lágrimas da camarada professora María, um brinde ao orgulho que ela sentiu ao ver o marido falar, um brinde aos rapazes desta sala que estavam também com vontade de chorar, um brinde a Cuba, por favor, um brinde a Cuba, um brinde aos soldados cubanos tombados em solo angolano, um brinde à vontade, à entrega, à simplicidade dessas pessoas, um brinde ao camarada Che Guevara, homem importante e operário desimportante, um brinde aos camaradas médicos cubanos, um brinde a nós também, as crianças, as "flores da humanidade", como nos disse o camarada professor Ángel, um brinde ao futuro de Angola neste novo rumo, um brinde ao Homem do amanhã, e claro, como é que íamos esquecer isso, Cláudio?, um brinde ao Progresso!
A mãe da Ró perguntou à camarada professora María se queria dizer umas palavrinhas, e ainda bem que ela não aceitou, todo mundo tinha medo que as palavrinhas dela se transformassem nas palavronas do marido, que ela falava sempre muito mais rápido e mais quantidade de palavras que ele. Mas ela recusou, pediu só para lhe passarem um guardanapo, "no, dos pañuelos, por favor", que o ranho já começava a cair das narinas bem gordas que ela tinha.
(Ondjaki, Bom Dia Camaradas, Ed. Agir)

2 Comentários:

Blogger Muadiê Maria disse...

Oi Gláucia,
acabei de ler este livro. Gostei do final, uma bela homenagem aos professores cubanos. Por enquanto só conheço este livro dele.
Conheci Ondjaki numa palestra o mês
passado, ele é muito simpático e leve. E tem uma boca tão bonita!
Quanto ao muadiê, não deixa de ser uma homenagem a Angola, mas é principalmente para puxar pra mim a força e sonoridade desta palavra.
Um beijo,
Martha

6/10/06 21:00  
Blogger Gláucia disse...

Eu não o conheço pessoalmente, mas gostei muito do livro.
Na boca do moço eu tinha reparado por fotografia. É bonita, mesmo.
E eu também adoro essa palavra.
Um abraço, Martha. E aparece.

9/10/06 00:42  

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quarta-feira, outubro 04, 2006

Cajuína (da série Trilhas Sonoras do Dia)


Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina
(caetano veloso)
imagem: éderson da silva

2 Comentários:

Blogger Tuca disse...

Linda música.

5/10/06 15:32  
Blogger Muadiê Maria disse...

Menina, que rosa linda!!
Maravilhosa.

5/10/06 19:27  

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segunda-feira, outubro 02, 2006

A Curva da Estrada (da série Bilhetes e Lembretes)


Sobre a Eleição, apenas isso: a coisa que me deixou mais triste foi a reeleição do José Sarney, depois da perseguição escandalosa e anti-democrática ao Blog da Alcinéa. Que, aliás, para indignação suprema de quem ainda é capaz, foi chancelada pela Justiça Eleitoral.
****
Hoje A Curva da Estrada está fazendo um ano de existência. Um ano de crônicas inteligentes, desabafos sinceros e poesia da melhor qualidade. Sorte nossa. Mérito dela.
****
Dica para grávidas e anêmicos: tortilla de espinafre, bem simples: escorrer bem o espinafre cozido, misturar com os ovos batidos, sal a gosto e frigideira. É bom com suco de laranja espremido na hora de servir.
****
Para logo, a estréia da série 'mi buenos aires querido', com dicas de restaurantes bb em dias certos e horários idem, e de livrarias-cafés tudo ao mesmo tempo agora que são pra matar.
imagem: leonardo saldanha

3 Comentários:

Blogger Leonor disse...

Muito obrigada, Gláucia. Beijos grandes

2/10/06 17:58  
Blogger Cé S. disse...

Pois é, a reeleição do imortal foi cruel.

Espero as dicas de BB.

2/10/06 19:22  
Blogger Tuca disse...

Oba! Adoro espinafre.

3/10/06 15:55  

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