segunda-feira, dezembro 12, 2005

Flor de tinta (Da série Sagrados e Consagrados)


O poema é o desenho desta letra

inclinada pelo rumor do vento

quando lhe peço abrigo

e vejo nele o espelho do meu corpo

repousando nos teus braços de ontem.

A tinta ainda não acabou de secar

O cheiro fresco da página vira-se para a página seguinte

e a minha voz ouve-se melhor ao vento

quando conspiramos no silêncio

a próxima letra

e a exactidão do seu desenho.

Agora há mimosas nas árvores

e lá em baixo o rio já não é como era

nem saberia sê-lo.

Esqueci como se bebe a água pela mão

ou como se bebe a mão

do rio.

Eu existia nessa transparência,

na flor espiritual e líquida

da tinta

que retoca no papel a sua vida.

Esta letra é o meu nome soletrado por ti,

o meu nome que ainda não está seco

e te olha nas acácias florindo em amarelo

no rigor do inverno.

Qualquer palavra tua me desenha

e assim começa qualquer coisa

que me estava destinada desde sempre.

(rosa alice branco)

Imagem: Rui Santos

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Tá muito bom !
Amadureces tua sensibilidade dia a dia.
Te amo!

13/12/05 18:35  
Blogger Margarida disse...

Obrigada.
Também adorei essa poetisa portuguesa. A maioria dos poemas que li tem essa sensibilidade marcante.

13/12/05 23:16  

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