Voz de Veludo (Da Série Pergunte ao Pó)
"From fairest creatures we desire increase
that thereby beauty´s rose might never die"
W. Shakespeare
that thereby beauty´s rose might never die"
W. Shakespeare
Guardara a voz, cujas notas aveludadas e amorosas costumavam inundá-la de urgências, e que deixara um amoroso recado qualquer, num dia qualquer, na secretária eletrônica do celular. A voz mudou. Do veludo restou talvez um risco de carinho. Como para alimentar o vazio informe e sem sentido que guardava em si, constantemente se punha a ouvir a voz aveludada, que já só existia guardada; que sabia, nunca mais teria a não ser ali naquele estranho relicário eletrônico. Um dia, ao tentar ouvir, descobriu que os recados não são guardados eternamente. Aquele não mais existia. Compreendeu que o veludo da voz se fora, que nunca mais o ouviria. Foi atingida por uma dor seca, um desespero silencioso. Há tempos não podia compartilhar o que sentia, mas pelo menos tinha a voz. Agora, nem isso...Então encontrou uma rosa, com pétalas de puro veludo, e seus dedos quiseram tocá-la, escorregando pela superfície vermelha, sentindo sua maciez e inteireza com tato de cega...Do veludo, restara a rosa.
Imagem: Carla d'Almeida Lopes
Imagem: Carla d'Almeida Lopes
1 Comentários:
Que coisa mais linda, Harriet!!!
Me desmanchei em lágrimas.
Divino...
Postar um comentário
Voltar