domingo, agosto 20, 2006

Ondjaki (Da série A Poesia Redescoberta)


Alguns trechos de entrevista do Ondjaki, o moço aí, que tá lançando no Brasil, pela Agir, Bom Dia Camaradas. O livro é de um lirismo deslavado ('infância é um antigamente que sempre volta', diz a criatura, apresentando a obra), daquele tipo que a gente começa a economizar pra não acabar, porque não quer deixar de conviver com o universo recriado pelo escritor. Recomendado com o selo Margarida Inventada de qualidade.
Essa entrevista foi originalmente publicada na Zero Hora de 05/08/2006.
(...) foi interessante observar aquilo que se chamaria a personalidade gaúcha. Pareceu-me gente desconfiada, fechada, mas com boa disposição e uma poesia que está recolhida nos olhos. Mas não se pode fazer um resumo dos gaúchos. (...) São as trocas culturais, portanto afetivas, que alteram essas visões distorcidas. E fui ficando triste quando me apercebi que, como em tantos outros lugares, a cor da pele era um problema tão gritante. (...) Acho que existem lugares plurais. A singularidade das coisas e dos lugares é feita pelas pessoas. Cada um vive a sua realidade, o seu universo social, os seus afetos. (...) O Mia Couto tem um livro com um título lindo: Cada Homem É uma Raça. (...) Trabalha-se com as mãos ao escrever, mas antes já se olhou, já se chorou ou sorriu, já se sonhou. Escrevo porque gosto de contar histórias, e porque há uma voz interna contando coisas a mim, e depois aos outros. Escrevo também para celebrar o fato de sermos todos humanos. O teatro, o cinema, e tudo o que eu fizer server para treinar a sensibilidade, para aprender a dialogar com ela. (...) Penso que os livros ajudam a formar pessoas, também ajudam as pessoas a sonhar. Neste país ou noutro qualquer, o livro é um objeto mágico. Mas para muitos escritores angolanos que trabalham num registro que bebe da realidade, normalmente o espectro da guerra aparece. (...) voltar à infância é sempre uma viagem perigosa. Levamos uns olhos de futuro e um coração todo adulto e na viagem aparecem receios e vozes que havíamos esquecido. Vozes que nos falam com tanta intimidade que temos que as abraçar para percebermos que são nossas.
grifos acrescidos, claro.
imagem: por nuno elias

2 Comentários:

Blogger Leonor disse...

Ondjaki não é dos meus preferidos. Quando li achei meio sem graça mas hei-de tentar de novo. E já leste o último Mia Couto? Acho que é o melhor dele mesmo. Bjos grandes

21/8/06 07:06  
Blogger Tuca disse...

Parece um cara legal.

21/8/06 16:31  

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