Cantiga
Pensar que o vi hoje à tarde
não passou de um traço rápido
que a saudade acendeu por engano.
Onde andará o meu amigo? Ilíadas
em tumulto, ondas sem descanso,
transparência sem desfecho, a cidade
é água sem memória. Fecho os olhos
e ouço sua voz dizendo-me eu vim,
sou o sábado que ficará contigo.
Onde andará a árvore, a copa alta
que se fez no meu caminho?
Onde andará meu amigo?
A mudez de tudo diz-me
que esqueça? Insisto. Não descanso,
não arrumo os livros, não deito
a âncora, não deito a lâmpada.
E minha cantiga há de queimar-
se toda assim, antiga, ridícula.
(eucanaã ferraz, cinemateca, cia das letras, 2008)
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