domingo, novembro 13, 2005

Alguém me dando a mão (Da série 'me segura queu vou dar um troço')


Relê pela vigésima vez o mesmo trecho da Paixão Segundo G.H. (Clarice Lispector): "(...) Para que eu continue humana meu sacrifício será o de esquecer? (...) Escuta, vou ter que falar porque não sei o que fazer de ter vivido. Pior ainda: não quero o que vi. O que vi arrebenta minha vida diária. Desculpa eu te dar isto, eu bem queria ter visto coisa melhor. Toma o que vi. Livra-me da minha inútil visão, e de meu pecado inútil. Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém me está dando a mão. Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria. (...)"
E não consegue aquietar a dor teimosa, insistente; lá está o buraco aberto pela mutilação. Havia arrancado de si seu pedaço mais singelo. Havia arrancado e não conseguia estancar o sangue ou conter a dor. Procurava na memória acontecimento anterior, semelhante, com o qual pudesse ter aprendido. Não encontrava, não aprendera. Perdida, desfeita, relia, perguntando a si mesma "quem vai me dar a mão?"

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