quinta-feira, dezembro 22, 2005

Presente de Aniversário Atrasado (Da série "O Tempo Redescoberto")


Essa foi a edição dos Morangos Mofados que li, em 1987. Sempre a tive por perto, junto ao Ovo Apunhalado, capa preta, de 1975, original. Ambas velhinhas, sublinhadas, surradas, folhas amarelecidas pelo passar do tempo, dentre meus livros mais queridos. Ano passado (ou terá sido neste?) emprestei-o para alguém que não devolveu. Fiquei muito triste. Fiz buscas e batidas pelas minhas bagunçadas estantes e pilhas desordenadas de livros, na esperança de encontrá-lo. Sempre apenas para constatar que estavam mesmo perdidos, os meus Morangos. Mas tenho um amigo. Ele também havia, de certo modo, perdido seus Morangos. Sabia o que significava. E perguntei a ele, olhando pros "canteiros de cimento: será possível plantar morangos aqui? Ou se não aqui, procurar algum lugar em outro lugar?" Ele respondeu que sim. Não acreditei, mas calei. Ele garantiu que era possível plantar e disse que me devolveria meus Morangos. E que nada, abolutamente nada que eu dissesse o faria desistir de devolvê-los a mim. E mais, não deixaria que eu desistisse da minha sede de eternidade. E que mesmo depois que Urano entrasse em Escorpião, após a Passagem da Grande Dor, seríamos Os sobreviventes, Os Companheiros. Nos piores momentos, conseguimos Diálogo. Fomos Luz e Sombra um para o outro. Sofremos muitas Transformações. E assim, numa Quinta-feira Gorda, mais ou menos no dia em que Júpiter encontrou Saturno, ele caminhou pra mim com olhos de quem "gosta de estrelas" e me entregou um pacotinho. Abri: meus Morangos, a minha edição. Após muitos meses, finalmente encontrara. A promessa se cumprira. Estava lá: "Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem. Natural é encontrar. Natural é perder" Meus Morangos; a dedicatória: 'Para Gláucia, porque sabe torná-los eternos e a salvo do mofo, sem sacrificar a doçura. Feliz Aniversário'... Fiquei muda. Lembrei que me escrevera uma vez que "o amor também vive nos silêncios de gestos e olhares e morre sem palavras, só para renascer nos fatos". Pela primeira vez concordei. Forma de calar, forma de amar. Strawberry fields forever...Muito obrigada, my friend. Sei que sempre tive o teu melhor.

Imagem: capa do livro
Todas as citações: Caio Fernando Abreu, Morangos Mofados

8 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Lindo. Estou embasbacada. Lindo e profundo.

23/12/05 11:52  
Blogger Gláucia disse...

Depois do falamos ontem a noite, dear...

23/12/05 12:41  
Anonymous Anônimo disse...

Bah. Como diz a Tuca, te puxaste, hein?!

Adorei, achei perfeito.

23/12/05 13:06  
Blogger Lana Moon disse...

Eu também adorei teu texto. Mas tu leste em 1987? Bah...Não vou calcular...

23/12/05 15:26  
Blogger Tuca disse...

Caramba! Lembro-me de ti lendo este livro. E eu bem pirralha a te rodear. Beijo.

23/12/05 23:18  
Blogger Gláucia disse...

Pronto. Resolveram as duas me chamar de velha. Eu mereço. Como diria Rô, eu devo ter grudado chiclete na cruz...

24/12/05 02:40  
Blogger Alex disse...

Nao fazes ideia de como estao meus olhos agora. Meus morangos tambem se perderam há anos e minhas epifanias nao quizeram voltar.

Para mim nao tem história de amor/solidao como No Dia em que Júpiter Encontrou Saturno.

Feliz Natal!

25/12/05 16:59  
Blogger Gláucia disse...

Eu vou começar a procurar teus morangos, pra, de algum modo, te devolver. E nem que precise ir até Júpiter, "onde as almas são puras e a transa é outra", eu vou desistir. "Bom encontrar você.(...) Te beijo"

25/12/05 20:13  

Postar um comentário

Voltar

free web stats eXTReMe Tracker

Apollofind Counter

referer referrer referers referrers http_referer