terça-feira, janeiro 10, 2006

Sonetos a Orfeu, II, 4 (Da série Sagrados e Consagrados)


Eis aqui o animal inexistente.
Sem saber, começaram a adorar
o passo, o porte, o dorso e lentamente
até a luz do seu sereno olhar.

Não existia. Mas de o amarem tanto,
fez-se puro animal. Deram-lhe espaço.
E no espaço, ele, claro, do seu canto
soergueu a cabeça, com cansaço

de ser. Não o nutriram com capim,
mas com eterno poder-ser, e assim,
de tal força dotaram o animal

que um unicórnio fez-se em sua testa.
Branco, o viu uma virgem, afinal,
e em seu espelho ele existiu e nesta.

(rainer maria rilke, trad. augusto de campos)

Imagem: m.c. escher (Unicorn-color)

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Vai lá no Megeras, no post dos poeminhas...

10/1/06 20:19  

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