quinta-feira, agosto 31, 2006

Os Ombros Suportam o Mundo (Da série Sagrados e Consagrados)




Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
Mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundoe ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
(carlos drummond de andrade)

imagem: a minha flor tua, carlos gomes

4 Comentários:

Blogger Tuca disse...

Adoro este poema!
Beijo.

1/9/06 15:44  
Anonymous Anônimo disse...

Estava relendo esse poema esses dias. Amo muito. Desde sempre.

Muita saudade. Quando tu vais aparecer?

Beijos,
Keiko

1/9/06 23:12  
Anonymous Anônimo disse...

muito lindo..

2/9/06 12:01  
Blogger Margarida disse...

estou voltando.
bjs

2/9/06 17:07  

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