sábado, dezembro 17, 2005

Chimarrão (Da Série Canções do Exílio)

"... Por esse ou aquele motivo, sou um triste desterrado. Mas de algum modo viajo com o nosso território, e comigo, lá longe, continuam a viver as essências longitudinais de minha pátria."
(Pablo Neruda, 1972)





Longe de meu rincão há cerca de três anos, o hábito - vício, conforme alguns - do chimarrão, antes diário, passou a ser salteado, esporádico. Primeiro, devido à dificuldade, digo, impossibilidade, de se obter erva-mate fora do Brasil, quiçá, fora do Rio Grande do Sul. Percalço geográfico este, contornado pela solidariedade de mãe, irmãs e amigas que pontualmente enviam encomendas recheadas de Ilex paraguariensis. Segundo, porque, mesmo quando na posse da matéria-prima verde e perfumada, trato de economizá-la, preparando um mate curto, ou mateando dia sim, dia não. E sempre que penso em economizar erva, inevitavelmente lembro-me do casal de velhinhos de Josué Guimarães em "Enquanto a noite não chega" - clássico de minha adolescência - últimos habitantes de uma cidadezinha abandonada, já em ruínas, que passam os dias de recordações e, em virtude das condições precárias em que vivem, são obrigados a poupar os últimos mantimentos, dentre eles, a erva-mate. Após o chimarrão, punham a erva a secar ao sol, com o intuito de aproveitá-la no dia seguinte. Muy bello... Confesso que já pensei em experimentar esta técnica, quando batia o desespero, mas nunca cheguei a fazê-lo! Hoje, depois de quase quatro meses sem chimarrão, sem amargo, sem erva e à beira de uma crise de abstinência, fui regalada, por uma colega de curso vinda de Porto Alegre, com dois quilos de erva-mate. Preciosidade. A sensação de novamente cevar o mate e sentir o cheiro da minha terra... Indescritível! Obrigada. Obrigada. Obrigada. Tenho conseguido, então, graças a almas benevolentes, caridosas, manter a tradição do mate amargo no fim de tarde.

Imagem: Leonid Streliaev



6 Comentários:

Blogger Gláucia disse...

Pá, como é que pode. Postei agora pouco um comentário para Keiko falando do teu chimarrão. É muita sincronicidade...

17/12/05 01:37  
Blogger Tuca disse...

Diogenes, gracias por el sentimiento compartido, por los recuerdos repartidos, por el saludo desde el sur... Gracias por todo!
"Muy bueno" es que te has gustado.
Bienvenido a nuestro Jardín!

17/12/05 13:36  
Blogger Tuca disse...

Glau, esqueceste que somos xipófagas?!... Sincronia, sintonia, y tantas "otras cositas más".
Muitos beijos. Te amo!

17/12/05 13:40  
Anonymous Anônimo disse...

Amargo doce, que eu sorvo
Num beijo em lábios de prata
Tens o perfume da mata
Molhada pelo sereno,
E a cuia,seio moreno que passa de mão em mão,
Traduz no meu chimarrão,
Em sua simplicidade
A velha hospitalidade
Da gente do meu rincão !
( Do irmão Glaucus, quem deu nome para a Gláucia quando esta veio ao mundo)

Tuca, " ... então me fico a pensar
apertando o lábio assim
que o amargo que está no fim
que a seiva forte que sinto
é o sangue de " 35 "
que volta verde prá mim!
__________
Vamos providenciar com urgência na
erva-mate para teus momentos de saudades da querência.!
Te amo. ( A.R.)

17/12/05 14:44  
Anonymous Anônimo disse...

Tuca Querida,

Tens que tomar teu chimarrão ouvindo Vuelvo al Sur. É de lascar.

Beijo
Niña

17/12/05 23:32  
Anonymous Anônimo disse...

tuca, pituca, mutuca, "a síntese do pago em um simples porongo" (papi) é o que tem de "mais melhor de bom" no mundo, tem que tomar o tempo todo, ou sentir o cheiro da cuia com saudade da erva, num respiro profundo, e tem que ficar te vitimando aqui no jardim, daí sempre que alguma margarida for polinizar aí pelo Vale do Tejo, te leva um pedaço do nosso rincão.

:)

21/12/05 23:19  

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