sexta-feira, janeiro 13, 2006

Aniversário do Pai (Da série Bilhetes e Lembretes)


Pai,
hoje farias aniversário se estivesses vivo. E então tomarias teu chimarrão. Essa foto, do pai da J.L, me lembra de ti desde a primeira vez que a vi. Mas não tomarás chimarrão hoje. Creio que estás agora imerso na eternidade, como disse o Hélio Pellegrino, e teus cabelos já não branqueiam, e teu corpo já não mirra mais, e tua memória já não regride. Ficaste parado em algum não-lugar. Mas as coisas aqui seguiram andando. E eu tive que andar também. Cada vez mais para longe de ti. Com dor e saudade tentei filtrar, da tua herança, o que me pertencia. Hoje sei que são as palavras. Tenho tentado de muitas formas me haver com elas. Não permitir que se tornem algo burocrático, mas que refundem minha existência e a ela dêem sentido, como deram sentido à tua vida. Às vezes me pego perguntando "onde andará a alma inquieta do poeta? Eu bem queria que estivesse aqui comigo..." E percebo que te foste no tempo que era o teu tempo. E que o que te fez eterno em mim não foi a tua partida, mas a tua estada. Apenas me entristece profundo que não tenhas conhecido tua neta. Ela te orgulharia. Tem muito do Rogério, teu filho escolhido e acolhido. Mas tem muito de ti também. Em especial um estranho e permanente gosto pela Lua...
Sinto tua falta.
Te Amo, pai.

Imagem: Chico do Vale
Referência: 'Onde andará a alma inquieta do poeta?' de Marco Aurélio Vasconcelos em homenagem a J.H. Retamozo

12 Comentários:

Blogger Leonor disse...

Um beijo grande grande! Como te compreendo Glaúcia. Onde estiver terá muito orgulho da Calrinha, que é tão linda. Eu fiquei com mágoa de nunca ter dado um neto para o meu pai, mas nem sempre se podem escolher essas coisas. Mil beijos

13/1/06 08:32  
Blogger Gláucia disse...

Querida Papalagui,
Essas são ironias da vida, não é mesmo. Tens a mágoa de não lhe ter dado um neto. E trago a dor de que, quando Clarita nasceu, ele já não tinha condições de reconhecê-la...Nossas dores, nós as transformamos em palavras. Como eles faziam. E é isso que nos faz, de certo modo, suas herdeiras...

13/1/06 09:54  
Blogger Leonor disse...

É mesmo, querida Gláucia. Acho que eles gostariam de ser lembrados com alegria e sem mágoa, e é tão difícil fazê-lo... Tenho a certeza que se o meu pai conseguisse ler o meu blogue iris ficar muito feliz e orgulhoso. Bjs

13/1/06 10:19  
Blogger Tuca disse...

É... Esta chaleira lembra mesmo o pai. Tomemos hoje um chimarrão por ele. Belíssima esta crta, Glau. Emocionante. Não consigo dizer mais nada. Beijo.

13/1/06 11:43  
Blogger Leonor disse...

E o que é um chimarrão? Me desculpem a ignorância... E já agora posso pôr um link no meu blog para a Margarida?

13/1/06 17:37  
Anonymous Anônimo disse...

Lindo demais. Só que tem coisas que vocês escrevem que eu não consigo comentar. Me tocam profundamente.

Leio, dou uma arejada e depois volto, com a esperança de poder dizer algo que acrescente. E só sai um lindo já gasto.

Beijos,
sodade.
Nña

13/1/06 18:42  
Blogger Rogério B. Alves disse...

Papalagui

Chimarrão é uma bebida tradicional da cultura gaúcha, uma espécie de chá com algumas complicações na preparação. Vais me perguntar o que é 'gaúcho'? É o resultado de um mix entre a cultura espanhola e dos indios sul-americanos.
Tens aí um link para os detalhes da bebida:

http://www.pousadacaina.com.br/CHIMARRAO.htm

13/1/06 21:00  
Blogger Leonor disse...

Obrigada Rogério. Gaúcho eu sei o que é, agora chimarrão não fazia ideia, até porque aqui em Portugal há um restaurante brasileiro de rodízio que se chama Chimarrão e não associava a uma bebida. Obrigada :)

13/1/06 22:01  
Blogger Gláucia disse...

Querida Papalagui,
Nós ficaríamos muito felizes e honradas se colocasses um link para o Margarida. E te pedimos, desde logo, autorização para fazer o mesmo.

Ainda sobre o chimarrão, nosso pai tomava todos os dias: de manhã bem cedo e no fim da tarde. Muitas pessoas aqui no Rio Grande do Sul têm o mesmo hábito.

Bjos

14/1/06 00:26  
Blogger Gláucia disse...

Niña,
Esse 'lindo' nunca gasta, porque a gente sabe que é do fundo do coração. E que, como a Papalagui, também tiveste perdas recentes que fazem com que entendas muito proximamente do que estamos falando. Por vezes, entender com essa proximidade implica não conseguir dizer. Posso afirmar isso com toda certeza, pois passei por um longo período de total ausência de palavras.

14/1/06 00:30  
Blogger Leonor disse...

Bom dia! Claro que podem pôr o link, é uma honra e um prazer. Bj

14/1/06 08:25  
Blogger Francisco X. Ribeiro do Vale disse...

Glaucia,
Que linda a mensagem que escrevestes para o teu pai. De emocionar mesmo. Fico mais emocionado ainda por ter contribuido, de alguma forma, para aflorar em voce esse sentimento. Pela chaleira. Essa chaleira eu a fotografei no ano passado, no seminario onde estudei ha 40 anos. Eu me lembrava dela sobre o fogao e fiz questao de fotografa-la. Para nos era apenas uma chaleira de cafe, mas tenho certeza que o seu pai logo iria pensar tratar-se de uma chaleira pra chimarrao. Abracos pra voce e para o Rogerio.
P.S. Deh uma olhada no meu site, tem umas fotos novas, muito bonitas, de orquideas.

15/1/06 21:22  

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