Os Ombros Suportam o Mundo (Da série Sagrados e Consagrados)
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
(carlos drummond de andrade)
imagem: michal wojciechowski
9 Comentários:
Gosto deste teu blog, talvez porque tambem goste de inventar flores. Gosto da poesia do Carlos, do seu olhar profundo, conhecedor dos meandros da mente. Gosto e pronto!
Estás nos meus favoritos a visitar com calma, degustando o sabor de cada palavra em noite de serão...
Abraço em mar, o meu mar...
Muy bien, limpiar el alma para empezar de nuevo. El peso sobre el hombre se aligera con la fuerza del corazón. Un beso Graúcia.
Te pondré en mis Link.
Muy bien, limpiar el alma para empezar de nuevo. El peso sobre el hombre se aligera con la fuerza del corazón. Un beso Graúcia.
Te pondré en mis Link.
Sempre me identifiquei com esse poema, desde que comecei a gostar de poesia. Traduz muito bem certos momentos da vida da gente, não é?
Beijos,
Niña
PS. Hoje finalmente vou postar as manias.
Que poema lindo!
Ah, eu amo este poema!!!!!!!!!!
Caro Lobo do Mar,
Fico feliz em saber que o Margarida é um blogs que gostas de visitar com calma. Especialmente depois de ter ido passear pelas memórias virtuais.
Sinta-se em casa nos jardins...inclusive para inventar flores, lançá-las pelo mar...
Héctor, querido,
Ainda não consegui fazer o link aqui. Mas o farei assim que o blog voltar ao normal. É uma espécie de fio a nos unir. Ah, e não conheço mais ninguém que postaria aquela cena. Naquele dia. Besos.
Niña,
Então é mais uma coisa que temos em comum. Tô hiper curiosa, indo pra lá já já dar risada e descobrir ainda mais coisas que devemos ter em comum.
Papalagui,
Foi esse o poema a que me referi aquele dia, em relação à parte do texto 'Se o Amor Acabou' que mais gostaste. Eu também sou apaixonada por ele. E esse é o meu poeta de cabeceira. Desde os 14 anos...
Tuquinha,
tu não vais aparecer no MSN?
Tenho trabalhado pela tarde e fico esperando...não entras nunca. Estou com muitas saudades.
Que saudade, Glau! Venho vindo, mesmo passando despercebida nas minhas visitas e vejo e leio e encanto-me sempre, mesmo se não deixo registado este encantamento. A minha alma sai sempre daqui mais cheia. Hoje foram as palavras do C. Drummond de Andrade que tiveram o papel principal. Obrigada!
Muitos beijos.
E.
Elis,
que bom que digas de novo. Fico feliz que venhas, ainda que em silêncio. Mas fico muito mais feliz se teu impulso à fala é maior do que a necessidade de enroscar-se em si mesma. Bjs
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