sexta-feira, abril 14, 2006

O Medo (Da série Pergunte ao Pó)


"Certa manhã, ganhamos de presente um coelhinho da Índias.

Chegou em casa numa gaiola. Ao meio-dia, abri a porta da gaiola.
Voltei para casa ao anoitecer e o encontrei tal e qual o havia deixado: gaiola adentro, grudado nas barras, tremendo por causa do susto da liberdade."
Eduardo Galeano

Não sei se pelo coelhinho, pelo medo, pela gaiola, pela saudade. Invadiu minha memória repentinamente, repetidamente. Volto ao mesmo lugar, como no sonho teimoso: - quando o abraçava, ele se desfazia; a sensação era incômoda. Abraçava e sentia aquele corpo a se desfazer, escorrendo pelo chão...

Me fez querer acreditar nas palavras que os gestos desmentem. E voltar a fazer pão pra manhã, voltar a esperar pela tua volta, voltar às esquinas infinitas, aos dias de chuva com sonho e café preto, ao território das certezas. Queria voltar. Mas nunca tem volta, assim como nunca termina e sempre. Termina, se morreu ou desistiu; se tá viva, continua. Termina sempre, também, assim como não, pois tudo é despedida e perda. Tudo é princípio e fim, junto assim, amalgamado; nascimento e morte. A ausência, traduzida espera, falta, vazio, é a presença constante, a companhia habitual. Anda sempre de mãos dadas comigo...

imagem: salete retamoso palma

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Muito bom, Glaucia!
Parabéns.
Jaime

PS.: Tens algum parentesco com o grande poeta José Hilário Retamozo? (Era meu amigo, e ocuparei a cadeira dele na Acad. Riog. de Letras)

14/4/06 10:56  
Anonymous Anônimo disse...

Ai, Gláucia. De lascar.

14/4/06 14:08  
Blogger Gláucia disse...

Jaime,
explica aí. Como assim? A cadeira nº40? Mas não está ocupada? Detalhes, please. Quando é a posse? Eu quero ir.
Bjs,
Ah, adorei a visita.

Niña,
que bom que gostaste.
Bjs,

14/4/06 21:09  

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