Feliz Ano Novo (Da série bem-me-quer, mal-me-quer)
Ele pergunta, retoricamente, vendo que ela está de malas feitas: Já vai indo? Ela responde, com cara de quem daria tudo para ficar: Já vou indo. Mas fica olhando pra ele longamente, percorrendo o corpo, se detendo um segundo na altura dos ombros e mergulhando nos olhos com a sede infinita de quem está a um passo da água e não a pode beber. Então, feliz ano novo, ele diz, igualmente mergulhado nos olhos dela, mas constrangido, sentindo-se incômodo e invadido, sem saber o que fazer com as mãos. Feliz ano novo... Mas nenhum dos dois se move. Nenhum passo para um abraço, um beijo, ou para a direção oposta. Ficam imóveis. Continuam se olhando, mergulhados. Sorriem ainda sem tirar os olhos um do outro e dizem, ao mesmo tempo: o que foi? E riem uma risada que enche o silêncio e interrompe o mergulho. Só então conseguem se mover. Um na direção oposta do outro. E ele vai caminhando sério, mas leve, por se livrar da invasora. E ela vai caminhando a sorrir, mas triste, por deixar pra trás aquele que.
Imagem: Felipe Paixão
2 Comentários:
Ah, Glau, sua destruidora de corações, preferia que tivessem se movido um em direção ao outro... Embora tenha adorado o texto.
Para que se movessem um na direção do outro seria necessário algo muitíssimo especial, tanto na vida quanto na literatura: Encontro. E encontrar é muito mais raro do que perder...
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