sábado, dezembro 17, 2005

O Amigo Narcisista (Da série O Amor nos Tempos do Cólera)














O sujeito de orientação narcisista carrega consigo alta dose de egoísmo e vaidade que acabam por impedi-lo de ir ao encontro do Outro. Ele não tem 'disponibilidade amorosa' e facilmente abandona seu(s) parceiro(s) em momentos significativos e intensos da vida comum. Embora seja capaz de ser gentil e de aparentar interesse pela pessoa do Outro, sendo, eventualmente, inclusive, protetor, para atrair atenção e afeto, sua pretensão encontra-se centrada no retorno que espera do seduzido. É claro que, em certo grau, é absolutamente saudável que se queira impressionar positivamente o outro, esperando em retorno algum grau de admiração. Mas o que distingue o narcisista é o egoísmo elevado a uma potência tão alta, que o outro é simplesmente desconsiderado e descartado no momento em que passa a 'atrapalhar' ou deixa de dar o retorno esperado à alimentação do ego narcísico. Segundo Anton (2000), o narcisista "objetiva, inconscientemente, convencer a si mesmo do seu valor, (...) anseia por admiração e afeto, em razão da falta de um suporte interno mais consistente. Para tanto, organiza sua vida não de modo a desenvolver uma real empatia, mas sim recursos de superfície, que satisfaçam sua vaidade e posssam ser empregados em seus movimentos exibicionistas."
Além disso, o sujeito narcisista repete uma espécie de dependência infantil do parceiro, que pode ser verificada, muitas vezes, em controles que ele permite e até exige que o outro mantenha sobre si. Então, criaturas desse mundo de môdeus, cuidado, pois o tipo narcísico faz sofrer não apenas o seu parceiro, mas também os amigos próximos. O abandono costuma doer muito, já que ele usa dos ardis mais requintados para manter o afeto do outro. A mesma Iara Anton (2000), ao explicar as razões inconscientes desse modo de ser, pergunda: "por que esta necessidade de interromper a relação que, em geral, parece tão gratificante, um completando e fascinando o outro? Por que a necessidade de antecipar o rompimento, justo quando os laços parecem mais estreitos? (...) Deve-se, em especial à gravação incosciente das experiências infantis traumáticas, que resultaram numa ferida crônica, talvez incurável. Como defesa, desenvolveu-se uma patologia que permite (...) evitar o luto: assumindo e antecipando rompimentos e evitando a formação de elos emocionalmente significativos; negar ou relativizar suas culpas, graças à má formação superegóica; fugir da sensação de vazio, inebriando-se na multiplicidade de relações fúteis, porém coloridas, substituindo-as rapidamente, umas por outras." Assim, amiga, irmã, companheira, fuja como o diabo da cruz de um eventual parceiro/companheiro com essas características. E se você tem amigos assim e gosta tanto deles que não consegue lhes fechar a porta, pelo menos tome precauções: não conte com eles pra nada, não espere que lembrem do seu aniversário, que lhe telefonem, que lhe ofereçam ajuda ou que consigam enxergar o tamanho da sua dor. Eles não conseguem. E sabe por que? Porque eles estão usando seus olhos apenas como espelho. Por mais que doa, melhor saber que é assim, do que ficar esperando, em vão, partilhar a beleza do pôr-do-sol no rio ou de algum revoar de gaivotas. Eles não a enxergam...

Imagem: Eco e Narciso (Waterhouse)
Bibliografia Referenciada: ANTON, Iara L. C. , A Escolha do Cônjuge: um entendimento sistêmico e psicodinâmico.

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