Menos só (Da série Diálogos Inusitados)
Num dia como qualquer outro, em meio a uma conversa trivial, ao telefone, ela bruscamente perguntou do que ele sentia saudades. Depois de uma pausa curta em que talvez tenha acendido um cigarro, ele disse 'da risada, da mania de encher os livros que estás lendo de papéis, dos silêncios irritantes enquanto a gente espera angustiado por uma resposta, do brilho insano dos olhos quando tens idéias novas, do perfume de morangos silvestres nos cabelos. Acho que de saber que fui menos só, muito menos só, quando estava contigo.' E ela não disse, mas pensou que também sentia saudades do sorriso leve, de algumas manias irritantes, de alguns cheiros, e da inegável sensação de ser menos só no mundo quando eram juntos.
Imagem: Still life with cosmeas, by Rein Pol
4 Comentários:
Veja bem, D. Margarida Flores, isto não se faz, é maldade demais com quem já não come quindins há tanto tempo.
Eu também tive umas conversas neste mesmo tom "confessionicida". Na hora a gente fica envaidecido, mas o after-taste é um horror!!!
Beijão!
Adorei, Margarida. Beijos. Saudades.
Veja bem, Mr. Cafeína, não me senti envaidecida. Me senti triste, pensando em como a vida poderia ter sido diferente se a moça tivesse sido menos orgulhosa, se o moço tivesse sido menos covarde, se, se, se, se. Ela não se cala por maldade. Ela se cala por não conseguir fazer diferente. Mas supondo que ela conseguisse falar, não seria maldade maior dizer 'eu também', veja só tudo que conseguimos jogar fora?
Tuquinha, beijocas.
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