Adélia Prado (Da Série Sagrados e Consagrados)

O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manhã, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.
(adélia prado)
imagem: magritte
5 Comentários:
Miranda, este poema foi escolhido a dedo! Lindíssimo. Perfeito. "Sagrado e Consagrado". Beijos.
A Adélia Prado é. E ponto.
Feliz pela visita ao mundo das ervilhas.
E adorei a ilustração, também.
Poema Começado no Fim
Um corpo quer outro corpo.
Uma alma quer outra alma e seu corpo.
Este excesso de realidade me confunde.
Jonathan falando:
parece que estou num filme.
Se eu lhe dissesse você é estúpido
ele diria sou mesmo.
Se ele dissesse vamos comigo ao inferno passear
eu iria.
As casas baixas, as pessoas pobres,
e o sol da tarde,
imaginai o que era o sol da tarde
sobre a nossa fragilidade.
Vinha com Jonathan
pela rua mais torta da cidade.
O Caminho do Céu.
Adélia Prado tem uma linguagem tão mãe-que-a-gente-queria-ter, não é?
beijos
Alex, Lindo, Eu não tinha visto seu poema, não. Vi nas entradas do mail que controla os comentários e vim correndo, porque, como esse só faz comprovar, vc só escreve coisas lindas, como "tão-mãe-que-a-gente-queria ter": um primor. A perfeita tradução da identificação-cheiro-de-café-com-leite que a gente sente quando a lê.
Bjs pra vc.
Adorei o mundo das ervilhas. Como seu texto é bom!
T. e H,
pra ser bem sincera e pouco modesta, eu também achei lindo.
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