terça-feira, setembro 05, 2006

De Caio para Hilda (Da série Cartas Reenviadas)


Mr. Cafeína novo template me manda 'mel do melhor' como se fosse água. porque quem tem alma grande pode essas generosidades sem nem dar por si.
"Hildinha, a carta para você já estava escrita, mas aconteceu agora de noite um negócio tão genial que vou escrever mais um pouco. Depois que escrevi para você fui ler o jornal de hoje: havia uma notícia dizendo que Clarice Lispector estaria autografando seus livros numa televisão, à noite. Jantei e saí ventando. Cheguei lá timidíssimo, lógico. Vi uma mulher linda e estranhíssima num canto, toda de preto, com um clima de tristeza e santidade ao mesmo tempo, absolutamente incrível. Era ela. Me aproximei, dei os livros para ela autografar e entreguei o meu Inventário. Ia saindo quando um dos escritores vagamente bichona que paparicava em torno dela inventou de me conhecer e apresentar. Ela sorriu novamente e eu fiquei por ali olhando. De repente fiquei supernervoso e sai para o corredor. Ia indo embora quando (veja que GLÓRIA) ela saiu na porta e me chamou: - "Fica comigo." Fiquei. Conversamos um pouco. De repente ela me olhou e disse que me achava muito bonito, parecido com Cristo. Tive 33 orgasmos consecutivos. Depois falamos sobre Nélida (que está nos States) e você. Falei que havia recebido teu livro hoje, e ela disse que tinha muita vontade de ler, porque a Nélida havia falado entusiasticamente sobre Lázaro. Aí, como eu tinha aquele outro exemplar que você me mandou na bolsa, resolvi dar a ela. Disse que vai ler com carinho. Por fim me deu o endereço e telefone dela no Rio, pedindo que eu a procurasse agora quando for. Saí de lá meio bobo com tudo, ainda estou numa espécie de transe, acho que nem vou conseguir dormir. Ela é demais estranha. Sua mão direita está toda queimada, ficaram apenas dois pedaços do médio e do indicador, os outros não têm unhas. Uma coisa dolorosa. Tem manchas de queimadura por todo o corpo, menos no rosto, onde fez plástica. Perdeu todo o cabelo no incêndio: usa uma peruca de um loiro escuro. Ela é exatamente como os seus livros: transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura impressionantes. É lenta e quase não fala. Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la. Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa. É impossível sentir-se à vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, mas porque a gente pressente que ela está sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor. Talvez eu esteja fantasiando, sei lá. Mas a impressão foi fortíssima, nunca ninguém tinha me perturbado tanto. Acho que mesmo que ela não fosse Clarice Lispector eu sentiria a mesma coisa. Por incrível que pareça, voltei de lá com febre e taquicardia. Vê que estranho. Sinto que as coisas vão mudar radicalmente para mim – teu livro e Clarice Lispector num mesmo dia são, fora de dúvida, um presságio. Fico por aqui, já é muito tarde.
Um grande beijo do teu Caio"

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Que bom ter notícias suas... Vc tem mesmo uma amiga aqui em BH, assim como sei que sempre posso contar com você!

Beijos e obrigada

6/9/06 09:50  
Blogger Joelma Terto disse...

Um bafo, né? Amo esse homem e essas duas mulheres. beijo minha linda

7/9/06 21:48  
Blogger Alex disse...

Tem coisas lindas que eu enxergo em ti e não consigo dizer ao vivo à queima-roupa.

Eu só sei que a gente tem estas premonições fantásticas, devem ser conexões cósmicas da minha lua com teu sol, imagino.

No fundo, eu acho que certos encontros são coisa de Deus. Coisa que nem a astrologia explica.

Beijo. Pros três.

8/9/06 00:18  
Blogger Edgar Aristimunho disse...

Glau,

Por vias que nem sempre sabemos percorrer novamente - o mesmo caminho nem sempre se repete de novo -, comecei meu dia lendo o teu post, com cheiro de Cafeína, e ali a lucidez de um Caio conversando com HH sobre a doce estranheza de uma certa Clarice.

Comecei meu dia bem.

By Ed.

8/9/06 11:03  

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