Carta de Aniversário (Da Série Cartas Reenviadas)

Tuca:
Nesta data, atéia, rezo por ti, por nós. E te escrevo minha oração, para que compreendas melhor as razões secretas de certos gestos simples. Que nossa ligação não se restrinja nunca a uma vaga idéia de laços de sangue através do tempo. Que de agora até o final da tua madureza saibas honrar, como até então tens honrado, a tradição literária, filosófica e estética que estão nas nossas raízes. Tu, filha do poeta das "luas andarengas", que faz da própria vida seu maior poema, do qual fazes parte, não abandones nunca o amor aos livros, aos clássicos, pois eles são inspiração e refúgio, serenidade e sabedoria. Tu, filha de uma advogada que jamais declina de uma causa justa por falta de pagamento, não entregues teus ideais por facilidades, pois nossos ideais são o farol que ilumina nossa tajetória por esse imenso sertão que é o mundo. Orgulha-te da tua família, com todos os loucos, gênios, brigas e imperfeições, pois é isso que faz dela uma família. Perdoai os que te ofendem. Não pela fé, talvez equivocada dos teus, mas pela grandeza infinita que eles te ensinam diariamente. E quando te faltar força, lembra do princípio. Lembra que nossos avós eram gente simples e pobre, que nada tinham além da própria dignidade. Tira daí tua força para saber que a dignidade é nosso maior bem. "Os templos são sagrados porque não estão à venda". Faz do teu nome um templo, e zela para que os vendilhões jamais tomem conta dele. Os partidos políticos, os grupos, as crenças, não passam de instrumentos para nossos ideais humanistas. Foge sempre dos sectários, fanáticos e dogmáticos, pois teu maior bem é teu espírito livre. Enfim, minha irmã, lembra sempre que uma grande mulher se forja com coragem e espírito, e o tempo se encarregará de te devolver a carne e a força dos teus antepassados. Feliz aniversário. Com amor, Gláucia.
(De Gláucia para Tuca em 02 de Abril de 1995)
Esta foi uma das cartas mais bonitas que já recebi. É relida por mim a cada 02 de Abril, há 11 anos. E esta "oração", me ofertada quando ainda guria, tem me guiado desde então.
Imagem: Kim Anderson
Nesta data, atéia, rezo por ti, por nós. E te escrevo minha oração, para que compreendas melhor as razões secretas de certos gestos simples. Que nossa ligação não se restrinja nunca a uma vaga idéia de laços de sangue através do tempo. Que de agora até o final da tua madureza saibas honrar, como até então tens honrado, a tradição literária, filosófica e estética que estão nas nossas raízes. Tu, filha do poeta das "luas andarengas", que faz da própria vida seu maior poema, do qual fazes parte, não abandones nunca o amor aos livros, aos clássicos, pois eles são inspiração e refúgio, serenidade e sabedoria. Tu, filha de uma advogada que jamais declina de uma causa justa por falta de pagamento, não entregues teus ideais por facilidades, pois nossos ideais são o farol que ilumina nossa tajetória por esse imenso sertão que é o mundo. Orgulha-te da tua família, com todos os loucos, gênios, brigas e imperfeições, pois é isso que faz dela uma família. Perdoai os que te ofendem. Não pela fé, talvez equivocada dos teus, mas pela grandeza infinita que eles te ensinam diariamente. E quando te faltar força, lembra do princípio. Lembra que nossos avós eram gente simples e pobre, que nada tinham além da própria dignidade. Tira daí tua força para saber que a dignidade é nosso maior bem. "Os templos são sagrados porque não estão à venda". Faz do teu nome um templo, e zela para que os vendilhões jamais tomem conta dele. Os partidos políticos, os grupos, as crenças, não passam de instrumentos para nossos ideais humanistas. Foge sempre dos sectários, fanáticos e dogmáticos, pois teu maior bem é teu espírito livre. Enfim, minha irmã, lembra sempre que uma grande mulher se forja com coragem e espírito, e o tempo se encarregará de te devolver a carne e a força dos teus antepassados. Feliz aniversário. Com amor, Gláucia.
(De Gláucia para Tuca em 02 de Abril de 1995)
Esta foi uma das cartas mais bonitas que já recebi. É relida por mim a cada 02 de Abril, há 11 anos. E esta "oração", me ofertada quando ainda guria, tem me guiado desde então.
Imagem: Kim Anderson
12 Comentários:
Ninguém pode escrever assim impunemente. Falo sobre Hermanas (já na epoca em que o texto surgiu queria dizer, recrimino-me como ninguém por não haver dito), falo sobre o texto congratulação desse dia, falo sobre a carta da irmã para a irmã, de 02 de abril de 1995. Que a lindeza do texto de vocês já não é promessa há muito: são flores de uma beleza no solar doméstico germinada, no solar doméstico cultivada e crescida . Não retórico, escrevo português: se a essa elegância se somar o cultivo assíduo, se a esses dedos, a essa graça de pétala somar-se terno e contínuo exercício, o nome Retamozo, recebido de poeta pela natureza, poderá ser pelo talento, pela indústria não apenas reconquistado, mas tornar-se – tão fresco, tão vigoroso em vocês – alcunha sinônimo, Cicero de retórica, Retamozo de beleza literária. Essas são as tábulas que o próprio MI sancionou, e que nós todos, a partir de sempre, postulamos e aguardamos de vocês.
Ad multos annos uiuas, Tuca!
marcant
Comentário precioso! Tamanho elogio vindo de ti, Marcant, me deixa muito envaidecida. Obrigada. Beijos.
Sem dúvida...este é um dos textos mais bonitos que já li. E me toca muito, muito mesmo, principalmente por ter sido escrito de irmã para irmã. E não irmãs apenas de sangue, mas irmãs de alma. A irmandade de vocês é tão linda que faz chorar.
Beijos para as duas.
EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
Feliz aniversário, cidadã do mundo. Um beijo bem grande cheio de carinho e de admiração.
Oi Glaucia. Acabei de te linkar no RS Urgente, já iniciando também uma "concorrência" ao Margarida Inventada. Já larguei com T.S.Eliot, que não sou besta....
Tuquinha, sua demente, já me lavei chorando de novo. Principalmente porque quando vi o post, já havia o comentário do Marcant, que, nem preciso dizer, me nocauteou. Esse sabe exatamente onde nos aperta o sapato...
Niña, querida, sabemos nós que irmandade de alma nada pode quebrantar...
Rô, sua demônia, só em dia de festa pra ti aparecer, não é?
Marco, querido, já saiste na frente, indiscutível. Eu é que tô sissi completa por fazer parte de um blog linkado por outro assim, sério, informativo, inteligente e tudibão que nem o RS. Adoro vocês.
Carta-oração-guia espiritual-farol de vida-lição de força e dignidade-palavra de amor. Maravilhoso! Eu própria quero tê-la sempre comigo para me guiar. Obrigada Tuca e Glau! Estranhamente ou talvez não sinto-vos como parte das irmãs que não tive.
Orei. Adorei. Me sinto um rei, autor da própria história. Obrigado.
Obrigada, Ro, Niña, Marco, Claudio... Beijos
Glau, qualquer coisa que te escreva será pouco para te dizer o quanto me fazes feliz, o quanto fico-te grata não somente pelo post, mas por todo o resto, por tudo... Te amo. beijos.
Elis,
Acho que nada estranhamente somos as irmãs que se encontraram. Assim considero também a Niña.
Cláudio,
Que bom que adoraste. Ficamos felizes de assim agradar, diria Yôda.
Tuquinha,
Apenas: mereces. O post e todo o resto. Também te amo.
Melina,
que boa visita!
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