sábado, setembro 30, 2006

Setembros em Lisboa (Da Série O Tempo Redescoberto)



Setembro de 2004: Lisboa me recebe, pela primeira vez, quando aqui cheguei em viagem de trabalho, vinda da Praia, Cabo Verde. Na bagabem, pranto, dor, tristeza. Despedaçada, esfarrapada, pela recente perda do pai; querendo estar com a mãe, com as gurias, mas impossibilitada de ir à Porto Alegre. Sozinha no mundo, sozinha em solo estrangeiro, desconhecido. Lisboa consolou-me com sua vista sobre o Tejo e seu clima outonal, entre luzes, fados e viagens de comboio.

Setembro de 2005: Lisboa me acolhe, vinda desta vez para ficar, acompanhada de meu amor. Na bagagem, nossos jeans, nossos livros, nossos discos e algumas fotografias. Além de muita expectativa, esperança para que tudo desse certo... pós-graduação, bolsa de estudos, Faculdade de Direito, casa nova, cidade nova, novos amigos. Lisboa encantou-nos com seu burburinho e sua singeleza, seus cafés, pastéis de nata e jogos do Benfica.

Setembro de 2006: reinauguro-me em Lisboa. Reinício, recomeço. Outros planos, outros caminhos, novos rumos, Faculdade de Letras – linguística, fonética, morfologia, sintaxe – esperanças renovadas. Uma nova vida para nós, uma nova vida...


Imagem: João Santiago

6 Comentários:

Blogger Rogério B. Alves disse...

Do nascimento, eu não lembro; dos renascimentos, sim. Um melhor que o outro. A cada vez, a exultante felicidade de ter vencido a morte. Parabéns pelos setembros, pelos renascimentos e pelo nascimento futuro.

30/9/06 11:33  
Blogger Tuca disse...

Rog, eu te adoro tanto, tanto. Obrigada. Beijos.

30/9/06 15:15  
Blogger Leonor disse...

Bem-vinda a Lisboa, Tuca. Felizmente que há (re)nascimentos. Bjs

30/9/06 17:51  
Blogger Gláucia disse...

Tuquinha,
adorei o post.
Nem precisava dizer, né?
Te Amo.
Bjs

30/9/06 19:56  
Blogger Tuca disse...

Beijos, meninas.

30/9/06 21:26  
Blogger Joelma Terto disse...

Eu tô me desmanchando aqui com os posts das duas. Tuca, viva os recomeços e as redescobertas. um beijo de feliz outono/primavera.

2/10/06 02:20  

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quinta-feira, setembro 28, 2006

O Carão da Tuca (Da série Vestígios do Dia)


As vezes a pessoa se aperta das costuras de uma tal forma! Muita força pra não incorporar Iansã e sair ventando e fazendo voar esses montes de papel. Pensando bem, não era má idéia.
Eu queria fazer um post, mas não queria tirar o carão da Tuca dali, sabe? Eu sinto tanta saudade, tanta saudade que só calo. Principalmente de quando a gente se olha e ri por nenhum motivo, do nada. Do que tá rindo? Não sei! Quá, quá, quá. E quando acontece alguma coisa que me deixa apreensiva, sem saber ao certo como ela está, se está precisando de ajuda, me dá uma aflição do diabo. Eu atravessando de novo a rua grande pra ir buscá-la na Escola, atrasada, com medo que estivesse sozinha. Aquele alívio ao enxergar a pitoquinha de aspecto frágil e cabelinhos ralos sorrindo pra mim. Sempre sorrindo pra mim...

imagem: primavera, dany

2 Comentários:

Blogger Tuca disse...

Ah, guria, tu queres me matar! Um post destes de fazer rir e chorar ao mesmo tempo! Justo eu, uma pessoa tão controlada emocionalmente...
Me fizeste retroceder anos ao lembrar a época em que me buscavas na escola. E às vezes tu inventavas de cantar pelo caminho e eu caminhava na tua frente, mais depressa, morrendo de vergonha... Que cena!
Glau, não nos preocupemos. Está tudo bem. Foi só um susto.
Muitos beijos! Muitas saudades!
Adorei o post. Te amo.
Tuca.

29/9/06 13:42  
Blogger Joelma Terto disse...

E daqui eu fiquei imaginando as cenas e rindo e chorando junto.
Glau, lembrei tanto da minha tia Ana, que é mais velha só 7 anos e temos uma cumplicidade de irmãs. E o quanto eu a amo e sinto saudade de quando a gente se mijava (uma vez literalmente) de rir juntas e meu avô ficava possesso com aquela alegria toda... Vou ali mandar um mail pra ela. :) beijo nas duas. Aliás, nas três que esse beijo é extensivo à Biba.

2/10/06 02:25  

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quarta-feira, setembro 27, 2006

Vira Virou (Da Série Trilhas Sonoras do Dia)



Vou voltar na primavera
E era tudo que eu queria
Levo terra nova daqui
Quero ver o passaredo
Pelos portos de Lisboa
Voa, voa, que eu chego já

Ai se alguém segura o leme
Dessa nave incandescente
Que incendeia minha vida
Que era viajante lenta
Tão faminta de alegria
Hoje é porto de partida

Ah! Vira virou
Meu coração navegador
Ah! Gira girou
Essa galera...


(Kleiton e Kledir)
Imagem: Tuca - Lisboa 2005

7 Comentários:

Blogger Gláucia disse...

Eu adoro essa foto. E gostei muito que a publicaste.

27/9/06 22:26  
Anonymous Anônimo disse...

Mas tu continua a mesma de DEZ ANOS ATRÁS!

Não tem vergonha na cara, não? Coitadinha da titia aqui!

27/9/06 22:33  
Anonymous Anônimo disse...

O blog é simplesmente delicioso. Li um post, outro, outro e logo cheguei ao final da página. Parabéns. Aqui retornarei. Grande abraço!

27/9/06 23:27  
Blogger Tuca disse...

Obrigada, Glau, Belly, Marconi.
Beijos.

28/9/06 13:53  
Blogger Tuca disse...

Obrigada, Glau, Belly, Marconi.
Beijos.

28/9/06 13:57  
Blogger Joelma Terto disse...

Que linda Tuca. Que linda!E ainda com essa trilha (amo de paixão). :)

28/9/06 21:16  
Blogger Tuca disse...

Um beijo, Jo.

29/9/06 14:04  

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terça-feira, setembro 26, 2006

Velhas Amigas (Da série Vejo flores em você)


Um par de semanas atrás troquei mails com uma amigona de colégio. A coisa teve um jeito de intimidade nunca perdida, um tom familiar, uma fluência fácil. Hoje recebi o telefonema de outra. Mesma turma, mesma época. Queria combinar pra deixar o convite da festa de um aninho do filho. E nós seguimos emendando um assunto no outro: mamadeiras, fraldas, babás, escolinha. Pensando em como tinha sido bom ouvir sua voz, mandei um torpedo dizendo que tinha adorado o telefonema. E ela respondeu: 'as velhas amizades tem uma força e uma verdade que resignifica tudo. Preciso cuidar mais delas.' E não é? Quem de nós não precisa cuidar mais delas? Quem não tem um velho amigo ou amiga em quem pensa com ternura, embora não consiga romper a inércia do cumprimento das agendas apertadas dando um telefonema, mandando um torpedo, mail, carta ou recado? Pois eu digo: não espere. Não deixe mais tempo passar sem ele. Não espere pra ligar, porque o amigo, esse cantinho ensolarado da Escadaria do Colégio das Dores, pode lembrar a você o seu melhor. Sim, os velhos amigos tem esse poder: acordando a familiaridade adormecida debaixo dos freela, dos prazos, dos projetos, das provas por corrigir, eles nos devolvem os tênis e as camisetas perdidos, as aulas cabuladas pra ouvir Janis Joplin e a visão de alguém muito jovem, que sabia pouco, mas desejava muito. Velhos amigos nos libertam do terninho, do tailleur, da maquiagem, do salto agulha, e nos devolvem a intensidade dos sonhos e desejos de juventude. Num telefonema, num e-mail, num movimento simples, simples. Com um clique no mouse... ou dois, ok.
imagem: o apanhador de flores, ondjaki (sim, ele também pinta!)

6 Comentários:

Blogger Elaine disse...

também quero ser tua velha amiga... não uma amiga velha. hehehe. deixei as roupas da clarinha no pilatis... adorei ver ela peixinho.
bjos

27/9/06 08:14  
Blogger Tuca disse...

Amei o texto, Glau! Vou já escrever para o pessoal do colégio...
Beijo.
Tuca.

27/9/06 12:11  
Blogger Leonor disse...

Muito obrigada pelo postal, Gláucia. Adorei! Um beijo grande e este texto está lindo.

27/9/06 13:09  
Blogger Gláucia disse...

Bjs, meninas.

27/9/06 22:28  
Blogger Joelma Terto disse...

Glau, chorei até lendo o post. Digo pra mim mesma, todo dia: preciso cuidar mais delas. Preciso muito cuidar dos meus afetos. Tenho tentado. um beijo querida

28/9/06 21:23  
Blogger Gláucia disse...

Joelminha translumbrante, inspiração da família, não chore não, menina. Logo ali tem alguém que vai pular de alegria ao ouvir sua voz, moça. Eu sei.

28/9/06 23:17  

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sábado, setembro 23, 2006

Tecendo a manhã (da série Sagrados e Consagrados)


Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro;
de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outros; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorporando em tela, entre todos
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendo para todos, no toldo (a manhã)
que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si só: luz balão.

joão cabral de melo neto (a educação pela pedra)
imagem: gosia gajewska

1 Comentários:

Blogger Tuca disse...

Adorei o postal!
Beijo.
Tuca.

27/9/06 16:56  

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quinta-feira, setembro 21, 2006

Vai perder? (Da série Utilidade Pública)

Precisando de uma bolsinha Reina Madre assim, pra ontem? Passa lá!

1 Comentários:

Blogger denize disse...

ai bunita. tu é uma querida mesmo.
beijinhos pra você!

23/9/06 06:51  

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quinta-feira, setembro 14, 2006

Quem conta um conto...(Da série vejo flores em você)

Porque beleza ajuda, sim senhor, ah, se ajuda.
Olha só o que acontece quando as artes do Moço do Café ajudam a contar...
Lindo, lindo. Nada menos.

5 Comentários:

Blogger Dita Von Claire disse...

eu já fiz um protesto lá na casa do moço. também quero ser phena e chique, quero mesmo, senhor.
*
*
mas sim, invejas todas "a parte", ficou um bafo.

14/9/06 12:03  
Blogger Leonor disse...

Só para dizer que mudei o nome ao blogue. A partir de agora chama-se A Curva da Estrada. Bjs

14/9/06 13:00  
Anonymous Anônimo disse...

Oiiiiiii...que saudade! Tempo que não comento...mas venho sempre. No intervalo da correria dou uma chegadinha aqui. Fiquei sabendo da "festa das bolsas" mas não pude nem comparecer porque estava em Caxias trabalhando. Não faltou vontade. "ques coisa" mais lindas!!!!
Rogério de casa nova está o máximo. Adorei.
Beijo beijo

14/9/06 18:10  
Blogger Tuca disse...

Ficou mesmo linda a nova "decoração" do blog do Rog! E o retrato, perfeito.
Beijos.

15/9/06 12:44  
Anonymous Anônimo disse...

ADOREI, FICOU LINDO.
BJO
ELAINE

21/9/06 19:29  

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quarta-feira, setembro 13, 2006

... (Da Série Canções do Exílio)


"A minha força eu retiro, eu sugo feito um vampiro, de saber que as estrelas também vivem sós."

(Nei Lisboa)
Imagem: Rafaela

3 Comentários:

Blogger Gláucia disse...

eu amo essa música.
e achei perfeita pra o teu momento, se queres saber.
bj

14/9/06 10:57  
Blogger Tuca disse...

Ao remexer a estante de livros, encontrei esta frase na dedicatória de um Machado que me deste em 1990.
Muito apropriado!
Beijo.

14/9/06 12:04  
Blogger Tuca disse...

Obrigada, Marcelo.
Também andei "te visitando" e gostei.
Muitas saudades. Beijos para vocês.
Tuca.

22/9/06 17:43  

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terça-feira, setembro 12, 2006

Encomendas (Da série Bilhetes e Lembretes)


Encomendei esse luxo de caderninho, da Monique. Tá lembrando de algo familiar? Isso mesmo, parece moleskine. Porém... é feito aqui em Sampa. Não é fofo? Tô louca pra tocar no meu!
***
Os links aí ao lado estão muito desatualizados, não é? Daqui a pouco a lista vai ter mais blogs inativos do que vivos. Vou dar um jeito depois do dia 20.
***
A Lo, por exemplo, criou o Simplificar é, inspirado na Vida Simples, a revista aquela. E está em vias de criar mais um. A Keiko desativou A Marítima e criou Unicidades. O Ed criou um blog: O Íncubo. E são apenas algumas das imperdoáveis desatualizações.
***
Também não tem link pra Dona Dê , o que, considerando ser esta que vos escreve a controladora de tráfego La Reina Madre - Dep. Porto Alegre, é um disparate, para dizer o mínimo.
***
A questão de alta indagação que aflige a alma da mortal é sobre a Estranha Mulher do Espelho. Mas aí já é outro post...
imagem: sam francis

11 Comentários:

Blogger Lo disse...

Glau!! eu não desativei o bLOg, não! sim, eu tenho a pretensão de manter os dois: o bLOg e o Simplificar é.
Serão três, na verdade, porque vem outro blog aí, ainda em gestação.

e, ó, tem lugar pro pé de caqui na tua casa mesmo? olha que eu levo ele lá, hein? (ih, nem sei onde é hihihi) e daqui a anos levarei meus filhos pra contar como ele surgiu e como foi parar lá :)

12/9/06 23:52  
Blogger Lo disse...

eu escrevi errado, por isso excluí o comentário anterior, agora vai certo:

"e esse link pra Vida Simples? Eu não entendi nada"

12/9/06 23:56  
Blogger Gláucia disse...

Já corrigi a informação errada de desativação do bLOg. Sorry.
*
Sobre o 'nosso' pé de caqui, vou falar com a zeladora eou com a síndica. Aí te respondo em sério. Mas acho que tem.
*
O link pra Vida simples é por causa do teu primeiro post no blog novo!
*
Continuas no pilates?
Bj

13/9/06 01:15  
Blogger Keiko disse...

Quando voltas mesmo? Estou com tantas saudades dos teus textos.

Beijos,
Keiko

13/9/06 13:58  
Blogger Tuca disse...

Pé de caqui????????

13/9/06 16:40  
Blogger Tuca disse...

Pé de caqui????????

13/9/06 16:42  
Blogger Tuca disse...

Ah, o comentário repetiu-se sozinho!

13/9/06 16:43  
Blogger Joelma Terto disse...

Mulher do espelho?!?
...
Das coincidÊncias da vida: tava eu nesse exato momento fuçando no Fora de Série e pensando: hummm, isso dá uma boa pauta praquela revista eletrônica sobre tendências e design que eu faço. Aí entro aqui e pimba! Tá lá o Fora de Série.
...
Amei o Simplicidade é, dona Glau. Amei muito. Vou correndo de volta pra lá, ler tudinho. beijos

13/9/06 22:43  
Blogger Gláucia disse...

pode ir botando mais água no feijão, keiko.
*
pé de caqui sim, senhora.
por que?
*
jô,
mais uma prova irrefutável de que até as coincidências nos unem.

14/9/06 10:59  
Blogger Lo disse...

Oi! agora o link da Vida Simples deu certo. Perguntei porque, na primeira vez que cliquei, parou num site nada a ver!!! Loucuras da Internet!

14/9/06 21:32  
Blogger Edgar Aristimunho disse...

Glau,
Acho que o meu espaço tá criado, o texto de abertura diz, com todas as letras, por que iniciei o blog, porque mergulhei, estou em busca de algo, dizer, viver, pulsar, e é por isso que sigo a trilha de Hilda Hilst e digo:

"...não tenho a menor vontade de escolher palavras agora... Não estou preocupado. Estou preocupado em exister. Existir é sibilante. Enfim, o existir não me confunde nada. O que me confunde é a vontade súbita de me dizer, de me confessar, às vezes eu penso que alguém está dentro de mim, não alguém totalmente desconhecido, mas alguém que se parece a mim mesmo..."

Beijão, minha agora colateral, Glau.

18/9/06 15:22  

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Voltando aos esportes (Da série Vestígios do Dia)


a prática dos nossos esportes prediletos, depois de um tempinho de preguiça, é causa de peculiar alegria...hohohoho

imagem: Irisz Agocs, aqui

1 Comentários:

Blogger Tuca disse...

Que bueno!

13/9/06 16:36  

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domingo, setembro 10, 2006

Sonho (Da Série Imorais e Surreais)




O que significa sonhar com café colonial???...








(Imagens: Café Coelho, Gramado, RS)



2 Comentários:

Blogger Margarida disse...

Ou que a pessoa tá passando fome, ou que tá com muita saudade de casa, não é?
bj

10/9/06 23:27  
Blogger Rodrigo disse...

é, pois é.

ja diziam:
tudo que é bom é imoral, ilegal, ou engorda.
Fazer o que? ces't la vie

11/9/06 11:53  

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terça-feira, setembro 05, 2006

De Caio para Hilda (Da série Cartas Reenviadas)


Mr. Cafeína novo template me manda 'mel do melhor' como se fosse água. porque quem tem alma grande pode essas generosidades sem nem dar por si.
"Hildinha, a carta para você já estava escrita, mas aconteceu agora de noite um negócio tão genial que vou escrever mais um pouco. Depois que escrevi para você fui ler o jornal de hoje: havia uma notícia dizendo que Clarice Lispector estaria autografando seus livros numa televisão, à noite. Jantei e saí ventando. Cheguei lá timidíssimo, lógico. Vi uma mulher linda e estranhíssima num canto, toda de preto, com um clima de tristeza e santidade ao mesmo tempo, absolutamente incrível. Era ela. Me aproximei, dei os livros para ela autografar e entreguei o meu Inventário. Ia saindo quando um dos escritores vagamente bichona que paparicava em torno dela inventou de me conhecer e apresentar. Ela sorriu novamente e eu fiquei por ali olhando. De repente fiquei supernervoso e sai para o corredor. Ia indo embora quando (veja que GLÓRIA) ela saiu na porta e me chamou: - "Fica comigo." Fiquei. Conversamos um pouco. De repente ela me olhou e disse que me achava muito bonito, parecido com Cristo. Tive 33 orgasmos consecutivos. Depois falamos sobre Nélida (que está nos States) e você. Falei que havia recebido teu livro hoje, e ela disse que tinha muita vontade de ler, porque a Nélida havia falado entusiasticamente sobre Lázaro. Aí, como eu tinha aquele outro exemplar que você me mandou na bolsa, resolvi dar a ela. Disse que vai ler com carinho. Por fim me deu o endereço e telefone dela no Rio, pedindo que eu a procurasse agora quando for. Saí de lá meio bobo com tudo, ainda estou numa espécie de transe, acho que nem vou conseguir dormir. Ela é demais estranha. Sua mão direita está toda queimada, ficaram apenas dois pedaços do médio e do indicador, os outros não têm unhas. Uma coisa dolorosa. Tem manchas de queimadura por todo o corpo, menos no rosto, onde fez plástica. Perdeu todo o cabelo no incêndio: usa uma peruca de um loiro escuro. Ela é exatamente como os seus livros: transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura impressionantes. É lenta e quase não fala. Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la. Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa. É impossível sentir-se à vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, mas porque a gente pressente que ela está sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor. Talvez eu esteja fantasiando, sei lá. Mas a impressão foi fortíssima, nunca ninguém tinha me perturbado tanto. Acho que mesmo que ela não fosse Clarice Lispector eu sentiria a mesma coisa. Por incrível que pareça, voltei de lá com febre e taquicardia. Vê que estranho. Sinto que as coisas vão mudar radicalmente para mim – teu livro e Clarice Lispector num mesmo dia são, fora de dúvida, um presságio. Fico por aqui, já é muito tarde.
Um grande beijo do teu Caio"

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Que bom ter notícias suas... Vc tem mesmo uma amiga aqui em BH, assim como sei que sempre posso contar com você!

Beijos e obrigada

6/9/06 09:50  
Blogger Joelma Terto disse...

Um bafo, né? Amo esse homem e essas duas mulheres. beijo minha linda

7/9/06 21:48  
Blogger Alex disse...

Tem coisas lindas que eu enxergo em ti e não consigo dizer ao vivo à queima-roupa.

Eu só sei que a gente tem estas premonições fantásticas, devem ser conexões cósmicas da minha lua com teu sol, imagino.

No fundo, eu acho que certos encontros são coisa de Deus. Coisa que nem a astrologia explica.

Beijo. Pros três.

8/9/06 00:18  
Blogger Edgar Aristimunho disse...

Glau,

Por vias que nem sempre sabemos percorrer novamente - o mesmo caminho nem sempre se repete de novo -, comecei meu dia lendo o teu post, com cheiro de Cafeína, e ali a lucidez de um Caio conversando com HH sobre a doce estranheza de uma certa Clarice.

Comecei meu dia bem.

By Ed.

8/9/06 11:03  

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Um pedido (Da série Bilhetes e Lembretes)


Qual seria o seu pedido?

imagem: csillaghullás/starfall, irisz agocs, daqui

1 Comentários:

Blogger Alex disse...

Não vamos deixar post sem comentários. É muito triste.

"A menina olha as estrelas
Por entre o sereno da madrugada
Sob a noite enluarada
Fica triste por não tê-las

A menina olha as estrelas
E as estrelas olham ela
Ao tremular da vela
No afã de querer vê-las

Ela olha elas
Elas olham ela
Um pequeno ponto celeste
Vê um pequeno ponto terreste
Ah.. a pequena morena agreste !"

De André Whittick Nasser

Daqui: http://verbonoinfinito.blogger.com.br/index.html#1606091
**

Beijo

9/9/06 15:07  

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segunda-feira, setembro 04, 2006

Sobre morrer (Fora de série)



"Devia morrer-se de outra maneira. Transformarmo-nos em fumo, por exemplo. Ou em núvens. Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamosos amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer: «Fulano de talcomunica a V. Ex.ª que vai transformar-se em núvem hoje às 9 horas. Traje de passeio». E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir à despedida. Apertos de mão quentes. Ternura de calafrio.«Adeus! Adeus!» E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes... (primeiro, os olhos...em seguida, os lábios... depois, os cabelos...) a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo... tão leve... tão subtil... tão pólen...como aquela núvem além (vêem?) - nesta tarde de outono ainda tocada por um vento de lábios azuis..."
José Gomes Ferreira- Documentário na RTP2, Domingo, 16 de Fevereiro de 2003, 10:30. Daqui

imagem: turner

2 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Abri um livro de poesia portuguesa hoje na mesma pagina em que esta esta obra-prima. Bah...contando ninguem acredita. Tem outros poemas dele no livro que sao otimos.

Mas as despedidas sempre doem. E a despedida da minha mae tem doido em mim gravemente. Agudamente. Me encolhi no silencio, para fazer de conta que nao existe.

Beijos,
Keiko

5/9/06 18:52  
Blogger Gláucia disse...

Espero que estejas conseguindo levar. E o projeto do novo blog, como está?
Manda mail, quando quiseres.
Um bjão pra ti.

6/9/06 00:17  

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